da europa
da europa a consciência é estranha:
talvez não saibamos nada dela enquanto
dela sabemos tudo em cada experiência
de vida. como a pátria de ulisses,
é um território onde,
entre as ruínas e algumas fidelidades contraditórias,
a alma aporta e renasce para a aventura.
os navegadores projectaram-na para além dos mares,
as artes e as técnicas, as orações e os medos, as alegrias e os lutos,
os crimes, as penitências, as substâncias do bem e do mal
impregnaram-lhe os próprios horizontes.
eu nasci numa pequena cidade do norte
num país do seu extremo ocidental.
há muitos outros países, cidades, montes, vales, planícies
e gentes que vivem mais afastadas do poente, gentes que,
para saberem do mundo, cultivam quanto a ela
uma espontânea distracção. e todavia, em toda a parte,
pelos séculos fora os homens não se pouparam ao sofrimento, enquanto
buscavam sempre a felicidade. ficavam exaustos mas
não falavam da europa que chegasse, não conseguiam
descobrir essa presença matricial
na dignidade da sua história, dos seus trabalhos e dos seus dias,
da sua paz, das suas guerras, das sombras mais profundas
de um conhecimento quantas vezes trágico.
da europa que se faz e se imperfaz
de tantas línguas, céus vários e costumes,
talvez saibamos pouco, talvez eu saiba apenas
ter consciência disso.
Vasco Graça Moura, «Laocoonte, rimas várias, andamentos graves», Quetzal Editores
talvez não saibamos nada dela enquanto
dela sabemos tudo em cada experiência
de vida. como a pátria de ulisses,
é um território onde,
entre as ruínas e algumas fidelidades contraditórias,
a alma aporta e renasce para a aventura.
os navegadores projectaram-na para além dos mares,
as artes e as técnicas, as orações e os medos, as alegrias e os lutos,
os crimes, as penitências, as substâncias do bem e do mal
impregnaram-lhe os próprios horizontes.
eu nasci numa pequena cidade do norte
num país do seu extremo ocidental.
há muitos outros países, cidades, montes, vales, planícies
e gentes que vivem mais afastadas do poente, gentes que,
para saberem do mundo, cultivam quanto a ela
uma espontânea distracção. e todavia, em toda a parte,
pelos séculos fora os homens não se pouparam ao sofrimento, enquanto
buscavam sempre a felicidade. ficavam exaustos mas
não falavam da europa que chegasse, não conseguiam
descobrir essa presença matricial
na dignidade da sua história, dos seus trabalhos e dos seus dias,
da sua paz, das suas guerras, das sombras mais profundas
de um conhecimento quantas vezes trágico.
da europa que se faz e se imperfaz
de tantas línguas, céus vários e costumes,
talvez saibamos pouco, talvez eu saiba apenas
ter consciência disso.
Vasco Graça Moura, «Laocoonte, rimas várias, andamentos graves», Quetzal Editores
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