o soneto encontrado na garrafa
é a ti que eu quero nesta ilha deserta:
livro nenhum, quadro nenhum, nem disco
(gosto de tanta coisa que faísco
mas a escolher assim nunca se acerta).
quero trazer-te a ti, ágil, desperta,
despenteadamente a cada risco,
e viver de algas, peixe e marisco
e nunca mais fazer sinais de alerta
e os navios ao longe ver passar,
enquanto a roupa seca na palmeira
(esta ilha tem uma, de maneira
que não é só rochedo e à roda o mar).
e tu entre corais, náufraga e nua,
a boiar no meu peito à luz da lua.
Vasco Graça Moura, «Laocoonte, rimas várias, andamentos graves», Quetzal Editores
livro nenhum, quadro nenhum, nem disco
(gosto de tanta coisa que faísco
mas a escolher assim nunca se acerta).
quero trazer-te a ti, ágil, desperta,
despenteadamente a cada risco,
e viver de algas, peixe e marisco
e nunca mais fazer sinais de alerta
e os navios ao longe ver passar,
enquanto a roupa seca na palmeira
(esta ilha tem uma, de maneira
que não é só rochedo e à roda o mar).
e tu entre corais, náufraga e nua,
a boiar no meu peito à luz da lua.
Vasco Graça Moura, «Laocoonte, rimas várias, andamentos graves», Quetzal Editores
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