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terça-feira, novembro 15, 2005

Canavial

sobre o canavial, a revoada
das aves deixa estrias fugitivas
no silêncio, no metal
obscuro das águas.

pálida a brisa perpassa
ciciando
nos pequenos rebordos da folhagem.
esta música, este leve

preludiar da noite,
sobre o canavial
em tons de pérola rosada,
no esmorecer da luz

por entre algumas nuvens
e o ladrar perdido algures de um cão
e pios, pios, à medida das sombras,
no esguio frémito das plantas

despenteadas num arpejo, devagar,
num ondular do tempo,
espelhadas no bronze
liso e crepuscular das águas.

Vasco Graça Moura, «Laocoonte, rimas várias, andamentos graves», Quetzal Editores