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sexta-feira, janeiro 27, 2006

Tantos teatros!

Há coisas que não se explicam, razão porque nunca expliquei o nome – "insustentável" – deste blog. Não o quis empobrecer. Mas, obviamente (ou talvez não), uma das razões de tal nome é de significado Político (no sentido maiúsculo do termo, e esperemos, também mais nobre). Não é pois o “insustentável” da situação actual - económica e orçamental - do País, mas sobretudo algo bem mais estrutural, e que vai perdurar, muito naturalmente, para além da própria durabilidade deste blog: os Portugueses, eu incluído! Esses insustentáveis!!
Quem aqui, a este blog tem vindo com alguma regularidade, há-de ter percebido que o inimigo nº 1 do insustentável é o «amiguismo», esse nosso alforge, onde se disfarçam em virtudes públicas, os vícios privados das relações de amizade.
Vem isto agora a propósito da crónica de Eugénio Lisboa, sobre o bruá à volta do caso do Teatro Nacional D. Maria, no último JL (18 a 31 de Janeiro). Crónica digna de ser lida na íntegra já que, na minha opinião, expõe uma parte da engenharia social do amiguismo, paradigma de funcionamento de todo o país (máquina governamental, pública, mista e privada).
Não podendo transcrevê-la na íntegra, cabe no entanto aqui a cópia de alguns parágrafos:
“É inimaginável o número de usual suspects que vivem literalmente suspensos das mudanças de Governo e, consequentemente, de novos ministros, para se atirarem – sem subtileza – ao telefone, fazendo saber aquilo que, desta vez, «querem».
E não são sequer desempregados ou vadios. Têm profissões sólidas e até aparatosas (professores universitários, jornalistas que dão nas vistas, economistas) – mas não acham que os cargos que exercem tenham suficiente «chic» e os ponham suficientemente na ribalta e no centro do câmbio de favores. Em suma, não rendem a longo prazo, nem rendem muito a curto prazo.”
“A quantidade de gente que já uma vez foi director-geral, ou presidente ou conselheiro cultural ou de imprensa e que, por isso, seria uma vergonha, ao deixar de sê-lo, voltar simplesmente ao cargo anterior de professor ou jornalista ou caixeiro-viajante – é inimaginável. E as «soluções» que, com a cumplicidade do Estado, se inventam para sustentar a vaidade e vacuidade desses egos à custa do contribuinte mereceria também a atenção desperta de bons inspectores ou auditores. O antigo primeiro-ministro britânico, Harold Macmillan, talvez o mais bem sucedido e notável primeiro-ministro britânico depois da 2ª Guerra Mundial, o big Mac do famoso «they never had it so good», na manhã do dia que se seguiu a deixar o cargo em que tanto se notabilizou, foi visto, de guarda-chuva na mão, na fila de uma paragem de autocarro, humildemente aguardando o transporte público que o levaria ao seu escritório de Londres.
É esta simplicidade sublime – ou simplesmente natural – de quem conhece bem as regras do jogo democrático que falta aos nosso pacóvios petits maîtres, que se julgam miraculados por qualquer cargo de notoriedade merecidamente efémera. Um ex-director geral ou um ex-presidente sente muita «vergonha» por regressar ao posto que era o seu antes da ascensão que sabia, desde o princípio, ser de duração limitada. As vergonhas que se sentem também ajudam a definir as pessoas.”

P.S. Sobre este caso específico - do Teatro D. Nacional Maria II - já não estarei tão à vontade a respeito da bondade das medidas da senhora ministra. A experiência tem demonstrado que medidas com aparência de profilaxia, mais não são que a substituição de velhos micróbios por novos vírus, sempre de estirpe mais maléfica e «perfeita» que a anterior. É a lei da natureza, produzir organismos cada vez mais adaptativos, sempre que a ecologia assim o exija. Em suma, é a vida!