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sábado, maio 13, 2006

Nascer

Há maternidades que vão encerrar: Barcelos, Elvas, Lamego, Santo Tirso, Oliveira de Azeméis... a que se seguirão mais umas quantas.
Haverá provavelmente razões técnicas e económicas para o fecho destas maternidades.
O país caminha desde há décadas para um modelo de desenvolvimento insustentável, baseado em profundas assimetrias na ocupação e uso do seu território.
Esse modelo é orgânico e cresce numa capacidade endógena de auto regulação e auto reprodução.
Não resultou de nenhuma vontade política determinada mas, pelo contrário, da ausência dessa mesma vontade.
Mais empregos no litoral atraem mais gente do interior, o que aumenta a necessidade de mais investimentos públicos (e a apetência pelos privados) nesse mesmo litoral, e os diminui proporcionalmente no interior. E assim indefinidamente: é um círculo e é vicioso.
As maternidades que se fecham hoje nas cidades do interior, por razões de segurança médica e de sustentabilidade financeira, serão maternidades que se abrirão no litoral dentro de 5 /10 anos, com mais custos, e por diminuição da capacidade técnica das que hoje já existem.
Planear é um acto pró activo, alicerçado num conhecimento do passado e do presente, e numa visão do futuro.
Por isso, planear é contrariar o meio orgânico de desenvolvimento. É procurar quebrar os círculos viciosos. É um acto de vontade. Em suma, é um acto de política, no sentido mais nobre do termo, de que tantos andamos tão necessitados.
Por isso mesmo, estas maternidades (e muitos outros equipamentos públicos) não só não deveriam ser fechadas, como a sua qualidade deveria ser melhorada, contrariando assim a forma orgânica de crescimento de Portugal. E ao invés, deixar de investir tanto no litoral.
Quem quisesse ter boas maternidades, e bons centros de saúde, e boas escolas, e bom ar, e bom cheiro,... e boa vida, mudava-se para o interior.
É mais fácil pagar melhor a 5 obstetras e melhorar um bom bloco de partos, do que obrigar os tais 1000 casais a percorrerem 30 quilómetros para verem nascer os filhos. Se metermos pelo menos 2 avós ao barulho e 2 visitas (2 dias) ao recém- nascido, temos gastos de transporte (carro, autocarro, comboio) para mais 420 000 km!
Por enquanto ainda se conseguem convencer alguns brasileiros a irem viver para Vila de Rei. Dentro de algum tempo nem isso.
Uma boa política mostra-se na sua inteligibilidade, integridade e não contradição dos seus termos.
Falar em promover a natalidade, e em rejuvenescer a demografia, e ao mesmo tempo fechar maternidades, faz muito pouco sentido.
Já para não falar dos referendos e do discurso de pseudo esquerda sobre a regionalização.
Ou da tão propalada necessidade de centros urbanos de média dimensão no interior do país.
Para que se acredite, volto a repetir o nome dos centros agora afectados: Barcelos, Elvas, Lamego, Santo Tirso, Oliveira de Azeméis...
Morrer é uma inevitabilidade.
Nascer nem tanto.