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quinta-feira, maio 25, 2006

Não eras flor de adorno...

Não eras flor de adorno;
inda auri-rubra reflorisses
pelos cariados muros
que a manhã descerra.

Qual puta da beira dos caminhos,
em árduos trejeitos te oferecias,
mas nos teus ranhos ressequias,
pobre madalena sem Cristo
nem franjinhas.

Em latinório doutorão, de aloe vera
te crismaram, mas na redoma do que
me é mais íntimo amarguíssima babosa
serás sempre, a de baba rude e grossa,
santo remédio p'ra piolheira,
fado nosso de menino.

Tiveste honra de retrato
em catálogo de missão botânica,
alfenim de inocência entre dragoeiros
poltrões e rosinhas vulpinas
que nos tiram o sarro das narinas.

Foste minha frol de verde pino,
amor recidivo nos costados dessangrados,
mais profundo que os terrores que
em tinta a noite me prescreve.

Mas, aonde a madrugada é susto,
te vejo posta em sossego,
então, suspirando, sou o pobre jonas
atirado às distantes praias do adeus.

José Luís Tavares