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segunda-feira, maio 01, 2006

Privilegiados (2)

The Wall Street Journal não faz a coisa por menos, e acusou a administração do Millenium bcp de “encher os bolsos” com a atribuição de salários multimilionários aos seus gestores, que no conjunto podem perfazer até 10 por cento dos lucros totais do banco!!!!
O título da coluna diz quase tudo: “Esquema de enriquecimento dos banqueiros do BCP funciona às custas dos accionistas”.
“Os banqueiros têm jeito para enriquecerem. Mas poucos o fazem com tanto atrevimento quanto os gestores do BCP, o maior banco cotado português” (Público 29 Abril, versão papel e The Wall Street Journal).
E por aí fora. A resposta do BCP tenta iludir o problema e insistir naturalmente na legalidade do esquema, de que ninguém obviamente duvidará.
No entanto, a questão é que já ouvimos isto em qualquer sítio: talvez naquela comparação dos ordenados e regalias dos administradores do Banco de Portugal comparativamente à Reserva Federal Americana!
Ou no paralelo dos vencimentos e alcavalas dos gestores de grandes empresas mundiais como a Nokia ou a Eriksson, com o de empresas portuguesas, que só são grandes na medida do nosso rectângulo.
Portanto, de que é que afinal se fala quando os grandes economistas das empresas públicas (incluindo do Banco de Portugal), gestores e administradores de empresas privadas (incluindo aqueles que têm responsabilidades nas organizações patronais), analistas e adivinhadores da míriade de jornais financeiros e destaques económicos da nossa comunicação social (já em tão grande número quanto os jornais da bola), e responsáveis políticos (do governo e da oposição), se põem a debitar sobre os vícios da administração pública, o excesso de funcionários e a overdose de dirigentes????
Como se coexistissem em Portugal 2 países: um atrasado, atávico, público e gastador, constituído pelas diversas corporações públicas e que é responsável pelo nosso atraso estrutural e respectivo déficit; e outro, moderno, privado, bom gestor e administrador e que traz consigo a solução para os problemas existentes.
Ao contrário do que muitos pensam e a ideologia dominante espalha, o mais provável é que o 2º país pura e simplesmente nem sequer exista. Ele será apenas uma expressão sofisticada do primeiro. Terá o seu discurso próprio, como é óbvio, bem fundado no economês, terá o seu território diferenciado (o privado), e terá ainda os seus rituais específicos. Mas o essencial do 1º país está lá: estratégia de sobrevivência grupal, de subserviência ao Poder, e de ganância terceiro-mundista!
Está mais do que visto que os nossos grandes gestores, administradores, consultores, etc., têm naturalmente tanto de públicas virtudes, como de vícios privados. São tão bons a apontarem o caminho da moderação salarial e de gastos ao País e aos seus concidadãos, como de deitarem a mão a tudo o que podem, mesmo nas empresas privadas, exemplos (?!) consagrados da excelência, e que são afinal a melhor montra do que somos como País!