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sexta-feira, junho 02, 2006

Aprendizagens

Ao contrário de sindicatos e outros grupos quejandos que são lobby permanente do Velho do Restelo neste país, a mim não me choca nada saber que uma grande fatia dos professores em Portugal pura e simplesmente devia mudar de ramo. Sei muito bem a incompetência que grassa entre essa classe, e sobretudo o seu enorme desfasamento a nível de atitude, empenho, dedicação, competência técnica e sobretudo solidez cultural, para aquilo que o país precisa.
Mas sei também que a classe dos professores não tem nenhum desses exclusivos. Estas são características de todas as classes profissionais em Portugal, sem excepção. A começar pela dos funcionários públicos à qual pertenço. É nosso património.
Não fosse assim, e não seríamos a cauda da Europa.
E também não fico nada incomodado, antes pelo contrário, por um ministro dizer o que tem a dizer e sem sofismas, não lhe achando impedimento algum só porque é ministro e o responsável respectivo da área.
O que me incomoda, isso sim, é que este tipo de crítica, injusta apenas na medida em que generaliza e cobre com o mesmo manto os que são bons, pode ser feita por muita gente mas nunca por aqueles que são exactamente os principais responsáveis por essa situação, isto é, o próprio ME, e sobretudo, os sucessivos dirigentes e criadores daquela máquina infernal.
É que foi exactamente a Srª ministra, e todos os seus anteriores colegas na pasta (independentemente do partido a que dizem pertencer), e ainda as respectivas nomenclaturas do «eduquês» que todos têm ajudado a instalar e medrar nos corredores do poder, que tornaram naquilo que hoje a Escola é, e de que os professores são afinal um seu destilado produto. Acusar as escolas de servirem apenas fins burocráticos, é de bradar aos céus, quando a acusação vem exactamente do antro dessa mesma burocracia, onde só nidificam cucos, e que inunda em todos os ciclos eleitorais o sistema educativo com dezenas de Decretos, Portarias, Despachos, Regulamentos, interpretações, omissões, etc.
Mas será porventura necessário enfatizar ainda mais como o comportamento dos professores é o retrato exacto dos nossos políticos.
Veja-se, a Srª ministra deu como exemplo o facto de as melhores turmas serem para os filhos dos funcionários da própria escola.
Ora, mas se assim é (e de facto é, e nem é o pior de tudo) está então tudo bem!
A Srª ministra (e todos os outros ministros, secretários de estado, directores gerais, directores de serviço, de todos os governos, de todos os tempos...) também gere da mesma maneira o SEU ministério, encharcando-o com os seus parceiros de partido, amigos de toda a vida e conhecidos destas vidas. Os professores apenas tratam os SEUS alunos, da mesma maneira que os ministros tratam os SEUS cidadãos.