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terça-feira, julho 04, 2006

Escolas recrutam (1)

Segundo parece, as escolas vão puder passar a recrutar directamente os seus professores, embora para já só em condições muito específicas.
Uma opção destas parece prefigurar, à partida, os melhores princípios de gestão, nomeadamente no que concerne ao reforço da autonomia das escolas e a uma sua gestão mais flexível (são as escolas quem melhor deve saber o perfil dos técnicos de que carecem).
No entanto, esta medida vai traduzir-se simplesmente na inauguração de mais um feudo do amiguismo.
As pessoas que constituem os conselhos directivos das escolas passarão pura e simplesmente a recrutar amigos seus, que de outro modo, ou nem sequer teriam cabidela no sistema, ou teriam de se conformar em ir dar aulas para um qualquer lugarejo do interior (e não estou a dizer que o actual sistema de colocação de professores seja justo).
E com essa prestação de favores os conselhos directivos vão reforçar o seu poder na escola muito para além do desejável, em áreas de interacção informal, influindo onde não deviam influir, através da rede de cumplicidades gerada pelos professores colocados com este sistema.
É que favores com favores se pagam.
Não nos pudemos esquecer que estes são os nossos hábitos e vícios de funcionamento, e uma prática ancestral com raízes sociológicas e antropológicas, mas que se tem vindo a actualizar e “modernizar”.
A instituição do amiguismo adaptou-se e hoje faz lei em tudo o que é instituição pública e não só. Mesmo no campo privado o amiguismo também se vai instalando aqui e ali. Isto faz com que em Portugal, onde não houver regras e um sistema claro que contrarie forte e persistentemente este nosso modo de gestão, tão distante do modelo anglo-saxónico mais meritocrático, o amiguismo se imponha sempre com a força que lhe advém dessa sua natureza ancestral e cultural.
Ora, o actual sistema de gestão escolar ainda não sofreu as alterações que seriam necessárias para impedir essa emergência natural do amiguismo, enquanto filosofia e metodologia de funcionamento e de trabalho.
Falo de mecanismos de gestão que fizessem com que, deixasse de ser do interesse particular dos professores que são responsáveis pela gestão das escolas, utilizarem o amiguismo como ferramenta de gestão.
Que, por exemplo, o sistema de avaliação das escolas tanto na sua vertente pedagógica como gestionária, fosse de tal ordem, que despistasse os casos de insucesso por incompetência em matérias de recrutamento e gestão de recursos humanos.
Avaliar e medir performances institucionais não é coisa fácil e exige pelo contrário um grau de tecnicidade bastante elevado e uma máquina já rotinada, coisa que definitivamente o ME não possui (nem qualquer outro ministério, diga-se de passagem).
O próprio ME é aliás também alforge de práticas amiguistas.
Lembro que foi a própria ministra quem há umas semanas atrás referiu o perfil burocrático das inspecções do seu ministério, e isto até num contexto de crítica ao modo como as escolas fabricam os horários e as turmas, constituindo e distribuindo essas mesmas turmas com base no conhecimento pessoal e favorecimento de professores e funcionários que trabalham na escola.
Ora, se isto já funciona assim, porque raio poderemos, por hipótese, julgar que o recrutamento de professores pela escola será operado de modo diferente?