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sexta-feira, julho 07, 2006

Escolas recrutam (2)

Dizer que a possibilidade de cada escola (ainda que em circunstâncias por ora restritivas) poder passar a recrutar os seus próprios professores visa dotar essas mesmas escolas de "novas condições de flexibilidade e autonomia no recrutamento de pessoal", é de nos atirarmos para o chão e rebolarmo-nos a rir.
Isto para os que não têm lá os filhos, porque aos outros pais resta-lhes apenas chorar.
É que tem sido exactamente com esta conversa que, por exemplo, nos serviços públicos centrais, volta e meia são criados Institutos públicos, dotados de maior autonomia ao nível financeiro e de recrutamento de pessoal. Quer dizer, também aqui a ideia original (traduza-se, oficial) era poder recrutar com maior rapidez (de facto os concursos de recrutamento são morosos) e nesses casos, inclusive, pagar a esses ungidos salários muito acima dos regulamentados para os restantes funcionários públicos, sob o pretexto de assim se poder recrutar os mais capazes no sector privado.
E o que é que sucedeu e sucede todos os dias ??
Recrutam-se, por exemplo, craques em matéria de "gestão de stocks" num restaurantezeco qualquer, ou "especialistas em sites electrónicos" sem experiência que justifique o ordenado recebido, como sucedeu ainda há pouco tempo no Ministério da Justiça, e sucede todos os dias em todos os ministérios.
Também do lado do mercado, isto é, das famílias, não existe qualquer mecanismo que permita, por exemplo, aos cidadãos (pais) premiar as boas escolas públicas com mais matrículas e as más com a ausência das mesmas, bem como mecanismos sancionatórios para os conselhos directivos que vissem, por motivo de falta de qualidade, a sua escola ser preterida.
Temos pois que neste caso do recrutamento de professores pelas próprias escolas, mais uma vez imperou o nosso modo de governar a república: muita legislação, muito ordenamento, mas nenhuma análise sistémica e prospectiva.
E o pior, é que a avaliação que se vier eventualmente a fazer no futuro sobre esta nova legislação, vai dar esta medida como altamente vantajosa e aprofundá-la ainda mais.
Vão medir e comparar os tempos de recrutamento e colocação, e obviamente concluir pela maior celeridade do novo sistema. Nunca se investigará que critérios presidiram às escolhas, e às cumplicidades pré-existentes sopradas ao ouvido, entre fulano do conselho de direcção e beltrano recém recrutado, tapar-se-ão os ouvidos.
Justificar-se-á quando muito que nada se pode fazer (não há provas e reclamação formal), ou até que o tal beltrano não pode ser prejudicado só porque é compadre do fulano.
Não haja dúvida que, a partir de agora, os amigos chegarão mais depressa à escola!