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quinta-feira, setembro 28, 2006

Ponham-nos é a trabalhar!!!

Na semana passada, um extenso e ecuménico rol de gestores apresentou com pompa uma coisa a que vêem chamando Compromisso Portugal.
Do alto das respectivas cátedras, estes sábios vieram professoralmente explicar aos incompetentes governos e aparvalhados governados, como é que Portugal deveria ser governado.
No entanto, visto com alguma atenção (e nem é precisa muita), verifica-se que o documento é um amontoado de ideias velhas e já carunchosas, e que não denota o mínimo esforço de estudo nem sustentação racional por parte de quem o fez.
Vindo de quem vem, com MBA’s e mestrados nas melhores escolas de economia da Europa e dos EUA, é muito mau sinal.
Aquilo que se espreme deste Compromisso Portugal resume-se tão somente a isto: «Venha a nós o Vosso Reino»! É isto que os nossos gestores de sucesso querem do Estado. Provavelmente para continuarem a ser bem sucedidos.
O que esta nossa melhor e mais douta elite económica e social quer (eles são empresários, gestores, profissionais liberais e académicos), é aquilo que sempre quis, tanto no novo como no antigo regime: que os Estado os ajude, passando-lhes para as mãos os negócios que ainda merecem a pena.
Dizer aliás que Portugal deve desfazer-se de 200.000 funcionários públicos, sem explicar tim-tim por tim-tim como, quando, de que modo e porquê, é simplesmente cavalgar a onda mais populista do governo.
E o pouco que explicam, é até claro de mais: querem que o Estado apoie a migração desses funcionários para o sector privado. Mais transparente que isto é difícil!
Obviamente estes gestores não podiam ir buscar exemplo nenhum concreto para a sua cruzada, simplesmente porque ele não existe na Europa que tanto lhes enche a boca.
É que, dêem eles as voltas que derem, os paraísos nórdicos são precisamente os países que têm mais funcionários públicos. O problema não é portanto da ordem do número, mas sim da sua organização, qualificação e mentalidade.
Mas um azar nunca vem só. E esta semana foi divulgado o relatório anual do Fórum Económico Mundial (FEM).
E chega o referido relatório à conclusão, que o sector privado em Portugal é afinal aquele que mais prejudica a competitividade nacional.
Em suma, o que mais atrasa o desenvolvimento nacional não são tanto os custos de contexto ou a qualidade das instituições públicas, como afirma hoje o pensamento politicamente correcto, mas sim a forma como as empresas funcionam e definem as suas estratégias.
É um balde de água fria!
É certo: eles hoje são mais sofisticados, mais qualificados, e até as gravatas denotam um gosto mais refinée, mas o cheiro, esse, continua o mesmo de sempre e não há Déodorant Aloe Vera que lhe apague o rasto.
Ainda parece que ouço o meu pai quando há uns anos atrás dizia:
«Metam-lhes é uma enxada nas mãos e ponham-nos a trabalhar!».