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terça-feira, dezembro 19, 2006

Desperdício

A Câmara Municipal de Cascais continua a primar pelo desleixo com que trata a promoção de eventos culturais por si própria apoiados, e que portanto supostamente seria do seu interesse trabalhar na sua promoção devida.
Esta é uma deficiência que já vem de longe e que tarda em ser corrigida.
Vejamos 2 exemplos bem recentes:
1º - No dia 15 de Dezembro, inserida na Temporada de Música, decorreu um concerto na Igreja dos Salesianos do Estoril, a cargo da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras (OCCO), dos Pequenos Cantores do Estoril, e sob a direcção do maestro convidado, Jorge Matta.
Como bónus tivemos ainda a excelente flautista, Sílvia Cancela.
Está certo que, aparentemente, o programa parecia não ser de grandes audiências: na 1ª parte e com a OCCO tivemos J. Vianna Da Motta (Scenas nas Montanhas, op.14); Vasco Pearce de Azevedo (Homenagem a Messiaen) e Frank Martin (Sonata Chiesa para Flauta e Orquestra).
Na 2ª parte, os Pequenos Cantores do Estoril, acompanhados pela orquestra, interpretaram uma série de canções de natal.
A Igreja estava pela metade, e se não fossem os paizinhos das crianças do coro, nem sequer isso lá estaria.
Já se sabe que o nosso público, mesmo o que está mais habituado a estas andanças da clássica, não costuma primar pela abertura: acima dos românticos, nada, Debussy é já um grande esforço, mas se reduzirem os programas a Vivaldi, Mozart, Beethoven e um ou outro Chopin, ficam todos satisfeitos de permanentemente ouvirem sempre as mesmas coisas.
Gostam muito da Gulbenkian e das grandes orquestras que nos visitam, mas se lhes taparem os olhos, não distinguem uma orquestra de 1º nível de uma outra de um nível, supostamente, mais abaixo.
Ora, acrescido a este facto, a ausência da devida promoção do concerto, acabaram por perder os que lá não estiveram. A OCCO começa a ser um dos segredos mais bem guardados em Portugal, e o programa acabou afinal por revelar-se bem acessível, mesmo para os renitentes à novidade.

2º - O exemplo seguinte sobre o mau trabalho da edilidade, ocorreu dois dias depois, a 17, data do concerto do Coral Lisboa Cantat, em formação quase sinfónica, dirigido pelo seu maestro desde há mais 20 anos a esta parte, Jorge Alves, e com uma 1ª parte inteiramente dedicada a Fernando Lopes Graça, e uma 2ª parte a Mozart (excertos do Requeim KV 626 e ainda o Ave Verum K 618, ambos com acompanhamento ao piano por Paul Timmermanns).
Para quem já ouviu este magnífico coro, as suas actuações já não são uma surpresa, tal é o nível evidenciado e que está ao alcance apenas de algumas formações profissionais.
A outro nível – péssimo - esteve mais uma vez o trabalho organizativo da CMC e do Centro Cultural de Cascais.
Pelo telefone, as senhoras que fazem o atendimento, 2 horas antes ainda não sabiam se o concerto seria pago ou teria entrada livre! E, pasme-se, não fugiam à mais básica manifestação de ignorância: «Ai, eu isso não sei!».
1 hora antes, e já no local, uma delas ainda confundia o concerto coral com o concerto de música de câmara, que teria lugar 2 horas e meia depois!
E 30 minutos antes, sabendo-se então já que a entrada afinal seria livre, não se sabia se haveria prévia distribuição de bilhetes ou não!!~
Um mimo!
Sintomática foi a presença de muito pouco público, que nem conseguiu encher uma sala já de si muito exígua.
Mais uma vez, por desleixo e incúria da CMC, inclusive com os seus próprios investimentos, perdeu quem lá não esteve, porque nem soube da existência do evento.

P.S. A OCCO é apoiada, de entre outras instituições, pela CMCascais e pela CMOeiras.
A sua programação é muito diversificada, com muitos concertos, e cobre naturalmente os 2 concelhos, em partes iguais.
Desde pelo menos há 3 anos a esta parte, a CMOeiras elabora e distribui um programa exclusivo da OCCO, relativa ao concelho de Oeiras.
Cascais?? Já estão a ver, não é??