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quarta-feira, dezembro 06, 2006

A Engrenagem

Já se sabe que o governo vai enviar milhares de funcionários públicos para o quadro de excedentes. Dobro a língua: para o quadro de mobilidade, que esse nome de excedente é muito feio e não fica nada bem na lapela do governo.
Desde há quase 2 anos a esta parte, a campanha populista do governo contra os funcionários públicos não cessa.
Para tal tem contado com espaço livre nos orgãos de comunicação, e com uma grande dose de ignorância da maior parte dos jornalistas (para não dizer todos) no que aos assuntos públicos e à administração pública diz respeito.
Não há especialistas nem know how na comunicação social sobre esta matéria e isso tem sido terreno fácil para as mais descaradas manipulações.
Sobre números e estatística, no que à administração pública dos países da UE diz respeito, então nem vale a pena falar.
A coberto da ausência de tempo da parte dos orgãos de comunicação (e tempo é dinheiro), as empresas de comunicação agenciadas pelo governo (essas têm tempo… e dinheiro: nosso) têm fornecido praticamente todas as notícias que vêm sendo publicadas pelos nossos jornais, revistas e noticiadas na televisão.
Criou-se assim uma verdade inabalável: há funcionários a mais, e em prol do orçamento e da economia do país e de todos os contribuintes, há que dispensá-los.
Até aqui tudo bem.
Ou melhor, tudo mal: é que eu concordo que a administração pública precisa de ser fortemente reestruturada, que nela existe muita incompetência, despesismo e muito amiguismo, e não concordo nem um pouco com a metodologia do governo.
Se agora temos uma má administração pública, dentro de 4 anos ela estará ainda pior.
Porque será?
E vem toda esta minha lenga lenga a que propósito?
Vem a propósito do gato que está escondido mas deixou o rabinho de fora.
Então, mas se é preciso reformar, poupar, moralizar, redimensionar, alguém me explica porque motivo é que o organismo público que será responsável pela gestão do tal quadro de mobilidade tem de ser uma empresa pública???
Sim, uma empresa pública!!! Ouviram bem!
Terá o bonito e pomposo nome de Empresa de Serviços Partilhados da Administração Pública (ESPAP) e também um conselho de administração constituído por um presidente e três vogais.
Venham pois os boys e as girls, que no meio de tanta crise sempre se vai arranjando um espacinho para acomodar mais alguns.
Existe uma Direcção Geral da Administração Pública (DGAP), que até hoje foi a entidade responsável pela gestão de RH na máquina do Estado.
Mas pelos vistos, para o nosso governo, campeão do ataque aos gastos supérfulos no Estado, essa solução não servia.
Era preciso criar uma empresa pública!
Aos inúmeros gestores, economistas e trabalhadores na indústria da opinião, que tanto se têm afadigado a fazer dos funcionários públicos os bodes expiatórios da situação do país, aconselho-os agora a analisar com calma este simples caso: é que ele é exactamente o paradigma da actuação de todos os governos desde há mais de 20 anos a esta parte, que levaram à situação em que se encontra actualmente a máquina do Estado.
É o “sistema”!