Powered by Blogger

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Uma questão de trocos

Ninguém está livre do erro, e tal faz mesmo parte da vida.
Um certo pessimista dizia mesmo que a vida é um erro. Mas adiante.
Quando em algum estabelecimento comercial fulano se engana a entregar-me o troco, não depreenderei obviamente que o engano é premeditado, mormente naqueles (a)casos em que sou eu o prejudicado.
Prova da contingência, da falibilidade e do arbítrio dos trocos, é que outras tantas vezes o engano é a meu favor e a prejuízo do comerciante.
Mas se em determinada loja, sempre que ocorre o erro ele joga infalivelmente a favor de quem faz o troco, então aí o acaso passa já a ser um caso.
De má fé, obviamente.
Passa-se o mesmo no desporto. Os erros de um árbitro que com estranho rigor se engana sempre para o mesmo lado, não são da mesma ordem de carácter daquele que asneirou para os dois lados.
Vem isto a propósito das contas do deficit.
Desde o pós-Guterres, quando o deficit chegou à nossa casa como um familiar a quem não convidamos e de quem gostávamos muito mais quando estava lá longe, não tem havido governo neste país que não tivesse demonstrado perante a opinião pública que a matemática, ao contrário do que se julga, é muito mais uma arte que uma ciência.
Infalivelmente, mais mês menos mês, acabamos sempre por descobrir que o governo se enganou no troco, e que o truque, à laia de desculpa, é sempre o mesmo: apresentar a coisa como assunto muito técnico, para com isso o retirar do julgamento do comum dos cidadãos. Para isso chama-se uma comissão de peritos, agenciam-se uns quantos opinadores – na verdade nem é preciso, pois há sempre gente disposta para isso – de modo a criar no cidadão a ideia de que nem os “especialistas” estão de acordo. POC para ali, POC para acolá, e com isso relativizam-se as engenharias financeiras dos governos.
Mas quando olhamos para a nossa mão, mais uma vez constatamos que o engano ocorreu, mais uma vez, no mesmo sentido.
O homem ao balcão já não é o mesmo, mas é tão aldrabão como os anteriores.