metamorfoses para 23 versos
há grandes folhas-verdes escuras na penumbra variável
de uma estufa de plantas. há o cheiro a terra húmida
contido entre os vidros brancos de cal, há
fetos, avencas, orquídeas, ciclamenes banhados
pela luz uniforme, a intensas horas do dia. noutras
a penumbra organiza-se em vãos e tufos como os das plantas,]
onde goteja a água, cria o seu musgo, as suas
manchas claras e porosas no reflexo
de algum vidro partido. não há sons, apenas sombras
do mundo, nem o olhar de ninguém; apenas
se pode conjecturar, para as zonas mais escuras, degradadas sob]
os tabuleiros de vasos, que o vagaroso capricho das plantas,
mesmo a cor do ciclamen, se alimenta
da sombra natural quando o seu arco sobe, entre o chão e a parede,]
até alguns fortuitos
brilhos silentes nos suportes da terra. e há outras conjecturas, porque]
esta é uma economia das formas do destino e perdidamente
as pessoas também, quando procuram o limite das coisas,
para viver ou para morrer, se interrogam
sobre um vidro embaciado que lhes devolveu as perguntas
e a água inacessível que as separa
da sua própria imagem, na penumbra virtual.
a escrita é uma orla inquieta das coisas,
uma sombra das figuras.
Vasco Graça Moura
de uma estufa de plantas. há o cheiro a terra húmida
contido entre os vidros brancos de cal, há
fetos, avencas, orquídeas, ciclamenes banhados
pela luz uniforme, a intensas horas do dia. noutras
a penumbra organiza-se em vãos e tufos como os das plantas,]
onde goteja a água, cria o seu musgo, as suas
manchas claras e porosas no reflexo
de algum vidro partido. não há sons, apenas sombras
do mundo, nem o olhar de ninguém; apenas
se pode conjecturar, para as zonas mais escuras, degradadas sob]
os tabuleiros de vasos, que o vagaroso capricho das plantas,
mesmo a cor do ciclamen, se alimenta
da sombra natural quando o seu arco sobe, entre o chão e a parede,]
até alguns fortuitos
brilhos silentes nos suportes da terra. e há outras conjecturas, porque]
esta é uma economia das formas do destino e perdidamente
as pessoas também, quando procuram o limite das coisas,
para viver ou para morrer, se interrogam
sobre um vidro embaciado que lhes devolveu as perguntas
e a água inacessível que as separa
da sua própria imagem, na penumbra virtual.
a escrita é uma orla inquieta das coisas,
uma sombra das figuras.
Vasco Graça Moura
Etiquetas: Poema, Vasco Graça Moura
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home