Powered by Blogger

quinta-feira, novembro 01, 2007

O sono de Baco

Não vejo senão homens e mulheres
nas tarefas do vinho.

Após a noite passada na adega,
Baco deve ter adormecido
de borco sobre a madrugada.

Ou então, aristocrata
não achou digno de si
vigiar pessoalmente a vindima.

Delegou talvez nas cotovias,
que tudo vêem do alto
e ralham (julga ele)
com voz severamente cristalina
a quem não madrugar.

Mas as cotovias não traem
o resto da criação, homens
ou bichos. Nos cofres de Baco
não haveria ouro que bastasse
para comprar a cumplicidade
de uma só cotovia
- a solitária alvissareira
das altíssimas manhãs de Setembro.

E assim, na ausência do deus,
desponta um tufo de riso
entre as frestas do cansaço.


A.M.Pires Cabral