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quinta-feira, janeiro 19, 2006

Paixão tecnológica II

anteriormente me tinha referido às paixonetas dos nossos governos: primeiro a educação e agora a tecnologia.
Ontem, o ex-coordenador do Plano Tecnológico, Luís Tavares, não esteve com meias medidas e indagou, à frente de todos, o 1º ministro sobre o veto de gaveta que estava a ser feito ao Projecto MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Já em Dezembro o Diário Económico havia referido a existência de entraves, no interior do governo, a este projecto, pelas elevadas razões de Estado do costume. Ontem, em plena mesa redonda organizada pelo “The Economist”, ficamos mais uma vez a saber no que é que dão estas paixões: José Sócrates tem o dito engavetado, naquela que é praticamente a única possibilidade de concretização de algo palpável do seu Plano Tecnológico.
Sabemos agora também quem é o empata. Para quem conhece algo do meio, saber-se que o cardeal é o ministro Mariano Gago, não é novidade nenhuma.
Entretanto, as afirmações posteriores feitas por Carlos Zorrinho, actual coordenador do Plano Tecnológico, não são de modo a sossegar ninguém. Por esse motivo as transcrevo aqui:
«Portugal vai ter uma rede de ligação entre as universidades e as empresas com ou sem a vinda do Massachussets Institute of Technology (MIT). A decisão está tomada. A rede é mesmo para ir para a frente, a dúvida está em saber se o processo envolverá ou não o MIT, embora o Governo esteja neste momento a negociar com o instituto norte-americano para que isso aconteça».
Bom, mas este episódio tem quanto a mim uma leitura tão importante como aquela que, mais uma vez, dá conta do modo como Portugal, sistemática e displicentemente, e avisados que estão os nossos governantes, perde excelentes oportunidades.
A primeira questão a que chamaria a atenção, é a da falta de categoria política (no sentido lato e nobre do termo) dos nossos governantes, e do modo como laboriosamente transportam os seus interesses pessoais, particulares, familiares e de grupo, para o governo e para o Estado. Estes complexos de quinta e de quintal mais não são que a expressão disso mesmo. Mariano Gago quer que apenas o seu Instituto Superior Técnico tenha a exclusividade da parceria com o MIT. Só que a ideia do MIT é diferente: quer recrutar investigadores junto de todas as universidades nacionais.
A segunda questão tem a ver com a atitude de José Tavares. Muita gente terá achado mal este ter confrontado publicamente o 1º ministro naquele lugar (público, à frente de todos, inclusive dos órgãos de comunicação). Ora, é minha opinião que o ex-coordenador do Plano Tecnológico foi desprendido e leal. Desprendido porque sabe que entrou naquele momento na lista negra dos não ministriáveis, não secretáveis, não directáveis! Neste momento, Luís Tavares é personna não grata pelo establishment governamental, do presente e do futuro, seja ele de que partido for! E leal, porque foi leal a quem tinha de ser: a Portugal!
Sabe-se que esta não é a cultura da nossa classe política. Quem sai de um governo ou de algum lugar apetecível de nomeação governamental, mesmo que saia em conflito com todos, mesmo que pense que tinha a razão do seu lado, mesmo que tenha sido humilhado e objecto de algum enxovalho, pensa 2 vezes e nunca explica porque saiu. Sai sempre "por razões pessoais", "por razões familiares", "por cansaço", ou porque determinado projecto "entrou numa nova fase que requeria um outro perfil". O destino de Luís Tavares é o destino de todos aqueles que chegam a posições de Estado, mas querem continuar a ter vida para além da política. Que procuram ser independentes e inverter as prioridades da nossa nomenclatura, colocando o Estado em 1º e não em último lugar. Nunca mais ninguém o chamará para lugar de responsabilidade! É o que dá ter curriculum, não vender a sua competência a ninguém, e pensar pela sua cabeça!
Veja-se o destino do Plano Tecnológico e a evolução do perfil dos seus diversos responsáveis. À terceira foi de vez: Carlos Zorrinho vem umbilicalmente do PS. Já deu pois provas da sua fidelidade.
P.S. Uma questão menor, diz-nos do extraordinário fervor democrático do nosso 1º ministro. Respondeu a quente, não se controlou e disparou a farpa dizendo que esta decisão não será tomada por um funcionário público. Ora, José Tavares não o interpelou na qualidade de funcionário público. Alguém tem de lembrar a José Sócrates que a cidadania tudo precede.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Claro que indagou na qualidade de funcionário público. De que outro modo teria acesso a esta informação. Tem muita razão no que disse! A forma como o fez é que foi despropositada pois foi claramente aproveitamento de um momento de televisão para se promover.

M.

5:46 da tarde, janeiro 20, 2006  

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