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quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Mais um: agora na Casa da Música!

Dizia eu, a propósito da nomeação do novo director do Teatro Nacional D. Maria II, que não acreditava na bonomia do sistema.
Era apenas uma questão de tempo!
Vinha-se preparando, com dedicação e empenho de uns quantos, o regresso de mais um amigo. Finalmente, Pedro Burmester é o novo director artístico e de educação da Casa da Música (CdM).
Para este longo e urdido complot, até Jorge Sampaio trabalhou.
Em Junho de 2003, numa ida ao S. João, no Porto, manifestou então a esperança de que «Pedro Burmester continue associado à Casa da Música», isto após vários pedidos de demissão do pianista da administração daquela instituição. Em 15 de Abril de 2005, em pleno discurso de inauguração oficial da CdM, brindou igualmente todos os atónitos presentes com mais um recado ao regresso de Pedro Burmester, com total despropósito e rebaixamento da sua condição de Presidente da República (e, já agora, de "todos os Portugueses").
Entretanto, a actual ministra da cultura, Isabel Pires de Lima, em consonância com esta magistratura de influência de Jorge Sampaio, já em 16 de Abril de 2005, avisava: «Não podemos [Ministério da Cultura] deixar de criar as condições necessárias para o acolhimento a uma pessoa tão importante para este projecto como Pedro Burmester».
E depois, há sempre aquelas explicações que só adquirem pleno sentido algum tempo depois. Disse ainda a ministra naquela altura: «faz todo o sentido que Pedro Burmester regresse [à CM] por uma qualquer das muitas portas pelas quais pode vir a entrar».
Mais clarinho que isto não é a água!
Pedro tinha de facto tudo, para chegar onde finalmente chegou: antes de mais, posicionou-se, condição sine qua non para que estas coisas possam acontecer com a suavidade devida. Depois, era homem do Porto, condição igualmente inestimável para assegurar um perfil internacional de 1ª grandeza a um projecto como é o da CdM. Finalmente, sempre tinha aquela tonalidade, aquela cor, aquele tom (maior?), que só uma esquerda bem pensante pode ter!
Sim, porque nisto, meus amigos, já há muito tempo que estamos entendidos: cultura, intelectuais, elites pensantes, isso só a esquerda tem (ou melhor, só a esquerda dá!).
A direita é burra, não tem cultura, e não tem intelectuais. E quando tem, é porque estão enganados!
Anthony Whitworth-Jones, o inglês que exerceu as funções anteriores de director artístico, não tinha, obviamente, nenhum desses predicados. Também não é músico e muito menos pianista. Ter sido o General Director do Glyndebourne Opera Festival durante 10 anos (1989-1998) e do Dallas Opera de 2000 a 2002, não terá sido naturalmente suficiente para as exigências cá do nosso burgo (e menos ainda do burgo Portuense). Valha-lhe que não foi para a bolsa de desemprego e é desde Novembro de 2005 o novo General Director do Garsington Opera Festival.
Pedro Burmester é músico. Pedro Burmester é pianista. Logo, é também programador artístico! Quem não entende esta equação, ou é fraco em matemáticas ou não está sintonizado. Problemas de metrónomo, certamente!
A questão que coloco é pois a seguinte: é Pedro Burmester o melhor programador artístico que a CdM poderia escolher??
Caramba! É que foram os próprios mentores do projecto (entre os quais o próprio Burmester), que desde o início do projecto CdM afirmaram que queriam guindar aquela instituição ao top da programação musical europeia.
Ora bem, se querem top para a CdM, dêem-lhe o top. Procurem-no! Recrutem-no! Dinheiro é coisa que nem falta à CdM. Quem pagava dez mil euros mensais, com direito a carro e despesas pagas, ao anterior director artístico, e por apenas 3 semanas de trabalho em cada mês (contratualmente definido), e ainda pagou 105 mil euros de indeminização a Burmester quando este saíu anteriormente da CdM, não pode sequer dar esta desculpa. Isto para já não falar nos custos totais do empreendimento. Faraónicos, como de resto o país, e que ultrapassaram em muito o estipulado.
Seria tão estranho assim, que a CdM rompesse com os ancestrais hábitos e habitáculos da nossa burguesia político-cultural pensante, e lançasse um concurso internacional para recrutar entre os 5 melhores programadores culturais europeus?
Mas não era exactamente por aí que se devia começar? Pelo princípio?
Se a CdM não consegue fazer esta coisa tão simples que é recrutar um "craque" com provas firmadas no metier, e assim dar um sinal fundamental a todos (Europa incluída) sobre aquilo que realmente pretende, então desculpem-me, mas eu não acredito que a CdM vá ser aquilo que diz que quer ser!
“Aquilo” será um CCB regional à escala Portuense. Quem quiser acreditar em outra coisa, acredite. Será já uma questão de fé, e nestes conturbados tempos, é coisa para se respeitar ainda mais.
Talvez seja pois melhor "reconciliarmo-nos".
Veja-se o à vontade: é que é o próprio conselho de administração da Casa da Música, que destaca a "reconciliação" como a "mais importante" razão para a escolha de Burmester!!
Ah, também justifica essa mesma escolha, pelo facto de ter sido do pianista a "ideia germinal" da Casa da Música, e ainda o conhecimento que este tem da instituição.
Não satisfeita, diz finalmente a administração da CdM, que espera assim recuperar um "clima de paz".
Esclarecidos??? Mais um pouco e eu escusava de escrever uma linha que fosse!