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quarta-feira, abril 11, 2007

O fim do silêncio??

Sinceramente não entendo o porquê de tanta expectativa com a entrevista que José Sócrates dará hoje na televisão do Estado. Como é evidente, aquilo que necessitava de ser esclarecido é exactamente aquilo que mais fragilizará o Primeiro-Ministro, a saber, o modo como foram estabelecidas as equivalências das cadeiras que trazia de Coimbra e do ISEL, a maneira como foi avaliado, e a lógica com que foram escolhidos os avaliadores (professores), bem como o papel desempenhado por esses professores (sobretudo um deles).
E portanto será isso que não será de todo esclarecido.
O drama de Sócrates, é que este episódio é mais outro (entre tantos) que desenha o retrato fiel do amiguismo e do tráfico de influências em que medra a classe política, e que uma vez mais vem demonstrar com insuspeitada clareza que, de facto, está firmemente implantada há longos anos uma poderosa oligarquia política, que tudo manda e tudo pode, nos mais variados aspectos da vida nacional.
Inclusive, vemos também agora, vale também obter licenciaturas da Farinha Amparo, para enfeite dos currículos respectivos.
Ao contrário do que muitos opinadores, jornalistas e directores da comunicação social por aí apregoam (nomeadamente ontem em «O silêncio de Sócrates» na Sic Notícias), eu quanto a este assunto, já me sinto mais do que esclarecido.
Para mim a pedra de toque não é se o Primeiro-Ministro tem um diploma, e portanto se está licenciado ou não.
É óbvio que o homem agora está licenciado (finalmente!) e que até terá um canudo para pregar à parede.
Viva. Parabéns para ele! E os outros, já sabem, ou estudam, ou vão para a política!
O busílis está em outro nome: António José Morais, esse super-homem!
Uma análise ao percurso deste produto autêntico e certificado da nossa política doméstica, local, regional e agora nacional, dá-nos a engrenagem do nosso modo de funcionamento.
Em vez de lerem apenas as biografias do Primeiro-Ministro, em que este sistematicamente (e significativamente) se veio apresentando ao longo dos últimos anos com certificações académicas que não possuía, leiam antes a biografia deste António José Morais. Tracem o seu percurso político e profissional, não só até ao momento em que aparece como professor e avaliador de 4 cadeiras de engenheira civil, como inclusive depois disso. E tudo ficará então mais claro.
Não interessa nada a pessoa em si, mas sim o tipo. A nossa política (e não só) está obviamente cheia destes Morais. É o que por aí há mais. E as suas acções, passem estas personagens por onde passem, deixam sempre o seu rasto. Há 2 anos atrás falou-se de um célebre caso no Ministério da Justiça, com a contratação altamente duvidosa de uma especialista brasileira em gestão de stocks (creio que era essa a especialidade). Na altura postei isto.
E quem lá estava, e que até teve de se demitir? Pois claro, esse mesmo Morais!
É muito natural (se entretanto não se vier a saber mais nada ainda pior) que este caso morra de um ponto de vista mais formal e jurídico.
Importa assim é que o licenciado Sócrates volte quanto antes à governação do país, e agora até com a vantagem de já todos sabermos (e ele saber que nós sabemos que ele sabe), que ele afinal não é Finlandês mas da mesma massa que tudo o resto.
Este episódio até terá a vantagem de, a partir de agora, sempre que o Primeiro-Ministro dê uma das suas de pregador e irrascível moralista, lhe podermos todos levantar o dedo e, com o nosso melhor e mais matreiro dos sorrisos de canto-de-boca, dizer-lhe: «Ai, ai… senhor engenheiro…!!!»

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