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sábado, abril 21, 2007

Uma questão de fé!

Eu, que vou também tantas vezes destilando o meu fel contra os jornais (inclusive contra o Público), tenho de agora dar o braço a torcer: o que o Público vem fazendo a propósito do caso da licenciatura de José Sócrates, não é um bom, mas sim um excelente trabalho. Seguindo o rasto daquela que me parece desde o início a perspectiva mais correcta sobre mais este escândalo, este jornal vem-se concentrando nas actividades do tal professor que estabeleceu as equivalências das cadeiras de José Sócrates (no lugar de um conselho científico ausente), e avaliou o Primeiro-Ministro em outras 4 (!!) cadeiras.
Como é óbvio, o que se pretende é exactamente aferir, por um lado, do grau de rigor da actividade de José Morais (e assim conhecer o homem no seu perfil profissional), e das suas conexões com o Partido Socialista, com um dos grandes amigos e companheiros de estrada do Primeiro-Ministro (Armando Vara), e até com o próprio José Sócrates.
O que hoje está escrutinado dessas relações, já dava para um livrinho das suas 50 páginas. E a procissão ainda vai no adro!
A pertinência para tais investigações é pois por demais evidente, para mais tendo em conta que, estranhamente, tem sido exactamente no conhecimento e relação de José Sócrates com o seu professor, que o Primeiro-Ministro e o seu gabinete mais se têm afadigado em esconder e apenas debitar muito a conta-gotas aquilo que já não podem de todo controlar: primeiro nem sabia o nome do professor, e depois, na RTP, apenas o conhecia da universidade (estava-se a falar da UnI).
Como era, para mim pelo menos, evidente desde o início, este era apenas um caso de tráfico de influências. E aquilo que agora se vem apurando (e ainda mais outro tanto que estará para se apurar), conduzir-nos-ão inevitavelmente a esta conclusão.
Cada qual fará da sua cidadania e do seu juízo o que muito bem entenda. Mas para já, encontram-se com grande fiabilidade apurados os seguintes factos:
- José Morais foi professor de José Sócrates no ISEL;
- José Morais transitou no mesmo ano que o Primeiro-Ministro o fez, do ISEL para a UnI;
- José Morais estabeleceu ele próprio o plano de equivalências das cadeiras que José Sócrates já possuía, tanto do ISEC, como do ISEL (sem intervenção de qualquer instância colectiva: conselho científico ou pedagógico);
- José Morais foi depois nomeado assessor de Armando Vara (então secretário de Estado adjunto do ministro da Administração Interna no governo Guterres), cargo que desempenhou entre Novembro de 1995 e Março de 1996;
- José Morais é a seguir nomeado por Armando Vara director-geral do GEPI (Gabinete de Estudos e Planeamento de Instalações do MAI), desde Março 1996 e até Junho de 2002;
- Pelo GEPI passavam as adjudicações de todas as empreitadas e aquisições de equipamentos destinados às forças de segurança e a todos os serviços dependentes do MAI, no valor de muitas dezenas de milhões de euros por ano;
- José Morais, para projectar a moradia que Armando Vara construiu perto de Montemor-o—Novo, recorreu a engenheiros que dele dependiam no GEPI;
- José Morais, para fazer as obras na mesma moradia, serviu-se de uma empresa e de um grupo ao qual o GEPI adjudicava muitos dos seus concursos públicos;
- Essa empresa é a Constrope.
- A Constrope era uma firma de construção civil sediada em Belmonte;
- A Constrope tinha entre os seus responsáveis um empresário da Covilhã, Carlos Manuel Santos Silva;
- E Carlos Manuel Santos Silva, era também administrador da Conegil;
- E Conegil era uma empresa do grupo HLC ;
- E António Morais a todas elas estava ligado através de uma empresa sua, a GEASM;
- José Morais, contratou também para fiscal de várias empreitadas públicas (10!), o pai de José Sócrates (o arquitecto Fernando Pinto de Sousa), de entre as quais a da construção do quartel da GNR, de Castelo Branco.
- E ainda os postos da GNR de Teixoso (1996), Covilhã (1996), Seia (1997) e Fornos de Algodres (1997), o parque de manobras da Direcção--Geral de Viação de Viseu (1998), posto da GNR de Aguiar da Beira (1999), esquadra da PSP de Gouveia (1999), quartel da GNR de Viseu (1999) e posto da GNR de Vila Nova de Foz Côa (2001);
- A construção do quartel da GNR de Castelo Branco, foi adjudicada em 1999 à Conegil, empresa do grupo HLC;
-A Conegil abandonou essa e mais sete empreitadas do GEPI sem as acabar, deixando, quando faliu em 2003, uma dívida de 1,6 milhões de euros ao MAI;
E por aí fora. As ligações de António Morais não se ficam por aqui. Já na vigência deste governo, e agora no ministério da justiça, José Morais foi nomeado presidente do Instituto de Gestão Financeira do Ministério da Justiça (cargo para que foi nomeado através de um despacho assinado por Alberto Costa e José Sócrates), de onde se demitiu (ou foi exonerado) passado pouco tempo, devido a mais uma das suas. Na altura por ter contratado, a salário milionário, uma brasileira vinda de um restaurante, com uma pretensa especialidade em gestão de stocks.
Está visto que os stocks do Morais são outros.
Agora, meus amigos, conhecidas estas conexões, (e outras que certamente ainda surgirão nos próximos dias), cada qual que lavre o seu juízo.
Está visto que o Morais não é homem de grandes rigores e formalidades legais. Não foi antes de se cruzar com os destinos (falo apenas dos académicos) de Sócrates, e não foi depois e até ao momento presente.
Mas obviamente, pode-se sempre acreditar que o Morais, maduro e já de alguns cabelos brancos de experiência acumulada, terá escolhido o momento de estabelecer as equivalências e avaliar as 4 cadeiras, como aquele momento zen em que, miraculosamente e por uma vez, se dotou dos rigores e fundamentos legais que eram devidos às circunstâncias.
Pessoalmente considero que o amiguismo, a troca de favores e o tráfico de influências são do que de mais pernicioso existe numa democracia. Porquê? Porque são corrupção! Casos como este, ou o do ministro Martins da Cruz, Ministro dos Negócios Estrangeirose das Comunidades Portuguesas no governo de Durão Barroso, e que na altura tanto escarcéu fez levantar o PS e o BE (e bem!), são simplesmente intoleráveis, e bem mais graves que o dos soldados da GNR a receberem meia dúzia de lecas para fecharem os olhos.
Cada qual que faça pois o seu juízo. Todos os juízos serão pertinentes, dada a democracia e a liberdade de expressão em que vivemos.
Embora me pareça que, continuar a acreditar neste momento e a partir de agora na inocência de José Sócrates, será já mais uma questão de liberdade religiosa.

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