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segunda-feira, julho 09, 2007

Blind trustee

Eu também acho que Marques Mendes tem de dar mais qualquer coisa a propósito das insinuações que fez, de que o número dois na lista de António Costa, o arquitecto Manuel Salgado, defende interesses próprios na desactivação dos terrenos do aeroporto da Portela. Não precisa de provar nada – coisas dessas, no limite, só em tribunal, como deveriam muito bem saber António Costa e José Miguel Júdice – mas precisa de demonstrar com que base fez tal insinuação, sobretudo porque em matéria de máquinas partidárias, listas eleitorais, e outras que tais, Marques Mendes não é nenhuma donzela virgem. É que há muito tempo que se fala dos interesses imobiliários de Manuel Salgado, e há uns bons tempos ficaram registadas, preto no branco, estas linhas de Carrilho (e nessa altura ainda nem se imaginava que a CML iria a eleições intercalares, e que Manuel Salgado integraria a lista socialista), e que tirei do Portugal dos Pequeninos:
"Este almoço foi todavia, para minha inteira surpresa e, devo dizer, não menor perplexidade, precedido de vários recados, de proveniência muito diversa mas de conteúdo sempre idêntico - O Salgado quer ser vereador. A minha perplexidade decorria de eu saber que Manuel Salgado tinha muitos projectos em curso na cidade de Lisboa, o que configurava uma situação de óbvio, e perturbante, conflito de interesses. Foi isto, de resto, depois de ele me confirmar o seu desejo de integrar a minha equipa, que eu lhe disse com toda a frontalidade. Ele reconheceu que havia dificuldades, mas que juridicamente havia soluções, que se podia pensar num blind trustee para dirigir o seu atelier. Tudo me pareceu pouco claro, pelo que ficámos de pensar melhor no assunto - mas eu fiquei muito preocupado, não só juridicamente mas também eticamente, com os contornos desta inesperada situação." (SOB O SIGNO DA VERDADE, D. Quixote, página 53. O bold é meu)
Confesso que a coisa também me aguça a curiosidade: estas persistências e insistências, estes chamamentos do Poder. Agora, como em tudo, pode-se acreditar ou não. É mais uma questão de crença. Mas em matéria de política, já há algum tempo que passei para um outro estádio evolutivo (às tantas, até mais primitivo). Prefiro agora a dúvida insistente pois, filosoficamente, considero-a muito mais frutificadora. É que, para crenças e crendices, aquelas feitas de razões que a razão desconhece e nada explica, já tenho para isso o meu Sporting.

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