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quinta-feira, julho 05, 2007

SIADAP: avaliação à peça e ao olhómetro

No princípio era o Adjectivo. E o Adjectivo era o "Muito Bom".
Era assim, nos seus primórdios e até há pouco tempo atrás, o sistema de avaliação dos funcionários públicos, em que só o simples facto de existirem era motivo suficiente para um "Muito Bom" ou mesmo um "Excelente", no final de cada ano.
Entretanto, em 2004, durante o governo de Durão Barroso, é lançado um novo sistema: Sistema Integrado de Avaliação da Administração Pública (SIADAP).
Então como agora, o SIADAP é considerado como um sistema bom, e que finalmete permite, de facto, avaliar a performance de todos os funcionários do Estado.
Diga-se em abono da verdade, que esta bondade até tem a sua razão de ser. Com efeito, o SIADAP em toda a sua vertente teórica, assenta num paradigma de uma organização-tipo que estrutura as suas actividades com base numa Gestão por Objectivos, explicita as mesmas em indicadores de gestão consistentes, e audita quantitativamente, com rigor e objectividade, todas as tarefas e desempenhos dos seus recursos humanos.
Se o SIADAP é então assim, ou melhor, se funcionar deste modo, de acordo com este paradigma, é lógico para todos que um "Muito Bom" passará a corresponder exactamente a um "Muito Bom", um "Bom" a um "Bom", e por aí fora.
Como explicar então o sistema de quotas implementado logo pelo governo PSD, que o actual governo quer manter no SIADAP?
Vejamos um exemplo: se o SIADAP é bom e funciona, e se em determinado ano, em determinada organização pública, 32% dos funcionários, pelo seu esforço, dedicação e qualidade do seu trabalho, tiverem "Muito Bom" nos seus parâmetros mais objectivos (e que, lembro, são matematicamente calculados), tal significa que a uma parte substancial destes funcionários, e à posteriori, acabará por ser conferida uma avaliação puramente artificial (neste caso apenas o "Bom"), por forma a não serem ultrapassadas as quotas instituídas para as avaliações mais altas. E lá se vão por água abaixo as tão afamadas e proclamadas métricas e objectividade do SIADAP!
A questão interessante é como o governo (pela boca do seu secretário de Estado da Administração Pública) veio desta vez justificar este sistema tão injusto de quotas: porque isso significaria (se não houvesse quotas) que nada iria mudar em termos de avaliação pois "toda a gente iria ter excelente".
Como? Importa-se de repetir?
Temos portanto que o governo admite, implícita e explicitamente, que o SIADAP afinal, não é o tal sistema rigoroso e objectivo, pois "toda a gente iria ter excelente" ! Afinal em que ficamos?
É que se afinal o SIADAP pode ser manipulado, ao serem puxadas para cima (para o "Excelente, como diz o secretário de Estado) todas as classificações, então esse mesmo SIADAP, afinal tão pouco consistente e débil, pode também ser manipulado quando, com este sistema de quotas, se tem de escolher quem atinge o "Excelente" ou "Muito Bom", ou quem deve ser castigado com apenas um "Bom".
Quem desde 2004 tem sido avaliado pelo SIADAP, sabe na pele que é assim que a mecânica do bicho vem funcionando.
De qualquer dos modos, tenho mesmo assim de agradecer ao Dr. João Figueiredo, por este seu lapsus linguae, que vale mais que 1000 manuais do SIADAP e de Gestão por Objectivos.

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1 Comments:

Blogger Guimaraes said...

A triste verdade:
http://jn.sapo.pt/2007/07/05/nacional/ganhamos_eleicoes_para_nomear_pessoa.html
Muito elucidativo....

3:42 da tarde, julho 05, 2007  

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