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quinta-feira, maio 31, 2007

Comunicação social de rasto

Sobre os números das greves avançados por governos e sindicatos, podemos ter a certeza de um facto: são sempre assutadoramente falsos. É assim desde que há greves. Até ontem. Talvez pelo descrédito em que se colocam os fornecedores desses números, ou porque a greve não tivesse o impacto desejado, ou porque é do seu interesse que o julgamento da greve não se resumisse a uma seca aritmética, a CGTP preferiu desta vez enriquecer a análise da mesma, com uma visão qualitativa por sectores de actividade, e apresentando apenas a título de exemplo, alguns números sectoriais e parciais. É natural que o faça, pois assim torna mais apelativa obviamente a análise, que é exactamente o interesse oposto deste e de qualquer governo. E para além de tudo, está também no seu direito fazê-lo. Até aqui tudo bem, para governo e CGTP. O que foi muito, muito estranho, a raiar a pouca vergonha, foi o tratamento diferenciado que as conferências de imprensa do governo e da CGTP tiveram por parte dos jornalistas (ontem vi apenas o noticiário da SIC). De um lado, tal era o silêncio reverencial, até cheguei a duvidar que estivesse lá algum jornalista. Do outro, ouviam-se os jornalistas a gritarem, aos berros como se estivessem num arraial popular a comprar sapatos aos ciganos, a falarem ao mesmo tempo, e propositadamente a fazerem-no durante as respostas de Carvalho da Silva (e não antes ou no intervalo das mesmas), numa clara e vergonhosa hostilidade para com o homem da CGTP, demonstrando mais uma vez que estavam ali não como jornalistas mas comissários de outros interesses. E assim se fez mais uma página negra na história da comunicação social.

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Mais Brasil na Cotovia

A Livros Cotovia está em grande azáfama neste meio de 2007. Lança uma nova colecção de literatura brasileira (contemporânea) - COLECÇÃO SABIÁ – que definitivamente vem estabelecer a literatura do português além mar, como uma das traves mestras da sua edição. Ainda a finalizar a colecção já célebre, Curso Breve de Literatura Brasileira, de 16 volumes (saídos 14, faltam apenas Primeiras Estórias, do grande, enorme, João Guimarães Rosa, e a antologia poética, A poesia «pós-cabralina»: concretos e depois), e igualmente com autores que antes mesmo foram saindo no catálogo da editora do Bairro Alto (Adélia Prado, Bernardo Carvalho, Sérgio Sant’Anna, Rubens Figueiredo, Milton Hatoum, Raduan Nassar, Samuel Rawet e André Sant’Anna), este novo braço, COLECÇÃO SABIÁ, trás para já 2 títulos: A Chave de Casa, de Tatiana Salem Levy, que será também em breve publicado no Brasil pela editora Record, e O Sol se põe em S. Paulo, o mais recente romance de Bernardo Carvalho, autor já da casa e que dispensa apresentações (Teatro, Nove Noites, Aberração e Mongólia). Já de Tatiana Salem Levy se pode dizer que nasceu em Lisboa mas que se mudou para o Rio de Janeiro com nove meses de idade. É judia, brasileira, portuguesa, possui ascendência turca e tem apenas 28 anos. Tanta raiz por certo deixa os seus traços, e é o que parece prometer a Cotovia no seu texto de apresentação: Para além da óbvia multiculturalidade que envolve esta “autora revelação”, aquilo que mais surpreende é a força do romance autobiográfico a que deu o título de A chave de casa. Nunca poderíamos supor que uma jovem adulta, de aspecto frágil, pudesse escrever de forma tão crua ao ponto de provocar uma sensação de quase claustrofobia nos seus leitores. Audaciosa, Tatiana Salem Levy, sobrepõe uma narrativa de viagem a uma história de paralisia.
Estes primeiros volumes estão já à venda na Feira do Livro de Lisboa.
Em próxima oportunidade voltarei a mais novidades da Cotovia.

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quarta-feira, maio 30, 2007

GREVE!!

Sou anti corporativo por natureza, não gosto de organizações de classe, nem das suas propaladas consciências, nunca fui sindicalizado (nem vejo como o possa um dia ser), tenho eczema a grupos, grupinhos, clãs e tribos, e sou de uma infidelidade a toda a prova em matéria de partidos e eleições.
Anseio há longos anos por uma administração pública mais formada, mais qualificada, mais competente, mais estruturada e melhor dirigida, avaliada com critérios exigentes e transparentes, com menos despesismo, e com uma verdadeira cultura de mérito que traga maior nível de exigência a todos os funcionários públicos e aos seus dirigentes.
Por isso, hoje, pela primeira vez desde o início da minha já razoável vida profissional enquanto funcionário público, faço greve.

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terça-feira, maio 29, 2007

Uma espinha chamada Portela

Como é desde já evidente e compreensível - e ainda a pré-campanha vai no adro - o aeroporto da OTA não é assunto do agrado de António Costa.
Mas daí a dizer que tal assunto é de âmbito nacional e que não diz respeito à cidade de Lisboa, não é, convenhamos, a maneira mais inteligente de lidar com tal questão.
É que se assim fosse, então também o fecho das maternidades, ou dos centros de saúde - para só dar um exemplo - também não seriam assunto que respeitasse aos diferentes concelhos e regiões, já que são matéria de política nacional da área da saúde. E até aqui, o respectivo ministro da pasta, se dispõe a negociar com os poderes locais.
A OTA ameaça tornar-se o assunto tabu da campanha do PS em Lisboa. As próprias hesitações de António Costa, que num curtíssimo espaço de dias oscilou entre o repensar e reflectir sobre a OTA, o reafirmar da OTA, e agora o negar, são prenúncio que a coisa não está de todo resolvida.
E também não será a colocar um jardim ou uma floresta no local da Portela, que Costa conseguirá resolver este dilema.

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segunda-feira, maio 28, 2007

A Taça é nossa!



UM JUSTÍSSIMO PRÉMIO PARA O MELHOR FUTEBOL DE PORTUGAL

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domingo, maio 27, 2007

Ovarense Bi

Há pouco mais de um ano atrás, dava aqui um grito de vitória pela conquista do campeonato nacional de basquetebol, então alcançado pela Ovarense, da cidade do azulejo, região de onde vem pelo menos metade do meu ADN, e onde acompanhei de perto a caminhada para a conquista do então seu primeiro título, nos anos 80.
No ano transacto, constatei a ditadura do futebol e dos 3 grandes, já que os principais jornais desportivos (???) praticamente nem anunciavam o evento.
E terminei então:
Bem sei que vos custa, ó Bola, ó Record, ó Jogo. Mas tenham paciência, tomem lá e aguentem! Para o ano há mais.
Pois bem, tomem lá então o Bi. A Ovarense acaba de se sagrar Bi-Campeã Nacional de Basquetebol, contra tudo e todos, inclusive os energúmenos do costume que, no penúltimo jogo, tiveram se ser levados à força para a esquadra.
Já verifiquei, mais uma vez, as capas de hoje, dos 3 grandes(??) jornais(??) desportivos(??), e deixem que vos diga: é uma oportunidade que se perde de lançar um concurso de âmbito nacional, para ver quem descobre a notícia sobre o término da Liga de Basquetebol, e o seu vencedor.
Ovarense, sempre!

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sábado, maio 26, 2007

Para o Mário Lino e o Almeida Santos:

Não consigo! Definitivamente, não consigo! Já tentei escrever, escrevinhar, comentar, eu sei lá, a propósito das declarações de Mário Lino e de Almeida Santos sobre o aeroporto da OTA, mas não sai nada. A revolta que sinto por estar a ser tratado como burro por estas iluminárias, é tal, e o espanto ainda maior, que não consigo o distanciamento para o que quer que seja. Nem para o sarcasmo consegui ainda fugir. Como não há palavras (nem 1000), deixo as imagens que me acodem:

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quinta-feira, maio 24, 2007

Feira do Livro

As Feiras do Livro abriram hoje: Lisboa e Porto.
Pela 1ª vez faz-se a venda de livros em língua estrangeira. E também pela 1ª vez, os livros com mais de 18 meses, têm desconto livre pelos editores, que assim vão poder praticar descontos de 20, 30, 40 e 50%. A Feira de Lisboa tem este ano 127 participantes e 189 stands.Encerra a 10 de Junho. Até lá estará aberta todos os dias, das 16:00h às 24:00h. No dia 1 de Junho (Sexta-Feira), Dia Mundial da Criança, as Feiras abrirão às 10:00h. No site da Feira do Livro de Lisboa pode-se ainda subscrever a newsletter, e assim ficar ao corrente de todas a novidades, lançamentos, eventos e Livros do Dia de cada pavilhão.

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Produtos eleitorais

Está quase aí a campanha eleitoral para a C.M. Lisboa.
Mas antes é preciso obviamente convencer os eleitores.
E está visto que o produto "CANDIDATO" vai ser muito, mas muito bem embrulhado. As palavras de ordem serão basicamente as mesmas em todas as candidaturas: o rigor, a disciplina, a contenção, a gestão, a abertura, a independência, etc. Exactamente aquilo que é percepcionado como tendo faltado até hoje à autarquia lisboeta: rigor financeiro e de gestão, e libertação das máquinas e dos lobbys partidários.
Nem era preciso contratar tão caro tantas empresas de comunicação para saber o tão óbvio.
Por isso todos os candidatos dirão basicamente o mesmo. E o primeiro sinal está já aí, na escolha dos respectivos mandatários, que são todos iguais no significado simbólico que cada candidatura lhes pretende atribuir, e como pretendem ser vistas e percepcionadas pela comunicação social primeiro, e os eleitores depois.
Num primeiro momento pareceu que António Costa vinha para arrasar: Saldanha Sanches vinha trazer a aura de credibilidade financeira à sua candidatura. Houve suspiros na nação, do Minho ao Algarve, incluindo Ilhas (e já agora Lisboa).
A seguir foi o que se viu: Fernando Negrão responde com o trunfo Manuela Ferreira Leite, Telmo Correia com Bagão Félix, e por aí fora. E o centro e direita vêm abaixo, tal é a excitação.
Depois da construção da sua credibilidade financeira, as candidaturas perseguem outra linha de força: a abertura para a esquerda, para a direita, para o centro, para baixo e para cima. É uma espécie de estratégia dos pontos cardeais, ou então uma maneira inconsciente de se dizer que, se quer agradar a gregos e a troianos. Costa desata a inventar mandatários (o nacional, o financeiro, o sénior) e assim pesca também José Miguel Júdice, ex-bastonário de uma das maiores Ordens profissionais do país, Raul Solnado que populariza e dá um toque das artes à coisa; Carmona joga o mesmo sistema de jogo e trás apoiantes da esquerda e das artes, Simone de Oliveira do teatro, e ainda da maior associação nacional (Carlos Barbosa, presidente do Automóvel Clube de Portugal); Telmo Correia lembra que Bagão Félix é dois em um: também é independente. E por aí adiante.
Ou seja, as candidaturas anulam-se umas às outras. Em gíria futebolística costuma dizer-se destas situações, que as equipas encaixaram uma na outra.
Mas isto para mim é sobretudo sinal de uma evidência: se as candidaturas e os candidatos precisam tanto destas figuras e deste figurões, é porque naturalmente admitem que nenhum é merecedor per si das qualidades trazidas por esses apoios: do tal rigor financeiro e gestionário, e da independência e abertura exterior aos seus respectivos partidos e/ou lobbys.
Os produtos vêm assim todos tão bem embrulhados e de tal ordem, que vai ser difícil alguém saber o que é que está verdadeiramente a comprar.
É por isso de desconfiar, e muito!!
É que os diversos compostos químicos, os conservantes, os aditivos, os estabilizantes, o aromatizantes, os anti oxidantes e anti coagulantes, estão em letra tão miúda que ninguém lê, ou então não entende nomes como o ácido benzóico, o benzoato de cálcio, o ágar, o betacaroteno, o palmitato de ascorbilo, ou mesmo o ácido fumárico.
E em outros, o prazo de validade nem legível é.

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quarta-feira, maio 23, 2007

O Fundo da Baía

Saído neste ano de 2007, em Março, O Fundo da Baía, de Joseph Mitchell, é sem dúvida um belíssimo livro. E Joseph Mitchell um grande escritor, coisa que para mim não distingue alguém pelo facto de escrever bons romances, contos ou novelas, mas pelo difícil facto de apenas escrever bem, seja lá o que for. Joseph Mitchell foi jornalista no The World, correspondente dos bairros no The Herald Tribune, repórter e redactor no The Worl-Telegram, e finalmente terminou a sua carreira na revista The New Yorker.
Estas são 6 gigantescas crónicas, publicadas nas décadas de 40 e 50 do século passado, nessa mesma revista.
Lêem-se num fósforo, mas fica-se com pena que assim seja. Mas para tal há até remédio: volta-se ao início e rele-se, pois estes são textos que aguentam muito bem isso, tal é a riqueza de pormenores, a palete das suas perspectivas, e a capacidade de ser simultaneamente transparente e complexo.
Mas o mais destas crónicas, é sobretudo o seu poder de entranhamento, e de nos transportar e fazer estar nos lugares e tempos onde decorrem. Há aqui sem dúvida, nesta literatura que é jornalismo (ou jornalismo literatura), uma estranha capacidade de evocar, de nos arrancar de onde estamos, tal é a simplicidade e ao mesmo tempo a enorme mestria, com que estão escritas estas histórias. Sinceramente, não consigo descobrir onde é que está o segredo, tal é o invisível labor que Joseph Mitchell terá posto em esconder as costuras nas suas belíssimas crónicas.
Deste autor tinha lido antes O Segredo de Joe Gould, com a chancela da Dom Quixote.
E por isso fica já na calha Sou Todo Ouvidos, colectânea de artigos de jornais, e que já foi publicado o ano passado também na Âmbar.
Mas este Fundo da Baía vai já direitinho para o topo dos meus livros de 2007.

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A minha Liga

O que gostei mais no Sporting:
#
Ter o mais baixo orçamento dos 3 grandes (metade do Benfica e um terço do Porto);
#Mais de metade da equipa ser toda made in Academia, e uma significativa parte serem tão novos que ainda nem a barba fazem;
#O seu treinador ter o invejável currículo de ter sido antes, treinador apenas durante 1 ano e da equipa júnior, e de ter inclusive de ir a correr fazer o curso de treinador de 1º nível, para se poder sentar no banco como tal (ok, não foi na Independente);
#Ser a equipa mais regular, com poucas oscilações ao nível dos 3 resultados possíveis (vitória, empate, derrota), já que contou apenas com 2 derrotas (a menos derrotada);
#Ter sido também a mais consistente, e com uma identidade de jogo mais marcada (por esse motivo foi a menos batida de toda a Liga, e pelo menos, uma das menos batidas de todos os campeonatos europeus);
#Nunca desistir e acreditar sempre, com um último terço da Liga (10 jogos em 30), simplesmente fantástico, de raça, querer e vontade:
Porto – VDEVVVDVEV: 6 vitórias, 2 empates e 2 derrotas
Benfica – VVEEEVEVVV: 6 vitórias e 4 empates
Sporting – VVVVVVEVVV: 9 vitórias e 1 empate
#Do quarteto maravilha (o melhor meio campo na Liga): Miguel Veloso, Nani, João Moutinho e Yannick Djaló;
#A vontade, o não desistir, a atitude, o empolgamento e a beleza do seu futebol;
#De Liedson, mais uma vez o melhor avançado a actuar em Portugal, e melhor marcador (Bola de Prata);
#Estar também na Final da Taça de Portugal
O que gostei mais no Porto:
#
O seu principal craque ser outro produto do Sporting (Quaresma);
#O seu treinador ter sido confirmado como o treinador para o próximo ano.
O que gostei mais no Benfica:
#
O seu principal craque ser também outro produto do Sporting (Simão);
#A cara dos benfiquistas a olharem incrédulos, uma vez mais, no final do campeonato, para o seu glorioso 3º lugar!
O que gostei menos no Sporting:
#A minha cara depois de perder o campeonato.

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segunda-feira, maio 21, 2007

Mas já chegamos à Madeira, ou quê??

Telmo

Credo!!!!!!

Mais nomenclatura, mais partidocracia, mais aparelho, mais um nº 2 : menos Lisboa!

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Conquilha futebolística

Ainda antes de qualquer insustentável comentário sobre a Liga de futebol agora terminada, não resisto a oferecer esta bela conquilha:

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domingo, maio 20, 2007

Mais da Adelaide

É portanto mesmo verdade que a sua consciência está tranquila.
Depois de ter feito o que fez, a Adelaide decidiu apoiar António Costa, e para tal até assistiu à apresentação da respectiva lista de candidatura. "Como cidadã", disse.
Terá sido também "como cidadã" que antes, a Adelaide procurou marcar a data das eleições ao arrepio das mais elementares regras?
Ou dá-se o caso de a Adelaide conviver melhor com a sua condição de "cidadã", do que com a de governadora civil de Lisboa?

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sábado, maio 19, 2007

A Adelaide

Ele há um certo estilo de gerir a coisa pública, que me encanta. Um estilo blasé, do género assobiado para o ar, tipo "eu estou aqui mas até podia não estar". Um encanto!
Depois de ter feito o que fez, com a marcação da data das eleições para a C.M.Lisboa, ficamos todos nós -maliciosos e maldizentes- a saber que afinal a primeira escolha da data de 1 de Julho pela governadora Adelaide Rocha, não teve nada a ver com a necessidade repentina, que a senhora terá sentido, de fazer o jeito a quem lhe deu o tacho onde está agora, e todos os outros por onde terá passado até hoje.
É que finalmente ficamos sabedores sobre o método com que terá chegado ao dia 1 de Julho.
Diz agora a Adelaide: «Estou de consciência tranquila agora que marquei o dia 15, como estava quando marquei o dia 1».
«É um dia como outro qualquer».
A primeira escolha há-de ter sido portanto por moeda ao ar. Dia 1, dia, 8, dia 15,… que diferença faz isso? A Lei? Tratamento de equidade para as listas independentes? Para formar coligações? Ora!

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sexta-feira, maio 18, 2007

Candidatos voláteis de candidaturas oportunistas

Será que a questão de todos aqueles que irão votar em Lisboa não é, mais do que o programa dos candidatos em presença, mais do que os inestimáveis apoios de que estas candidaturas se hão-de saber rodear, não será antes a completa ausência de garantias da permanência destes, à frente dos destinos da C.M.L., depois de eleitos?
Dito de outro modo: depois de um presidente que saiu da autarquia para Primeiro-Ministro (Santana Lopes), de um vereador grande demais para a sua vereação (Carrilho), de um candidato que o é, porque abandona uma vereação para que foi eleito (Negrão), de um líder do principal partido da oposição (Marques Mendes), que nem se rala nada que um presidente de uma autarquia (Seara) a abandone por uma candidatura a outra, e de um líder de um partido de maioria absoluta no poder (José Sócrates), que promove mexidas disparatas no Tribunal Constitucional, e prescinde do nº 2 do governo, nas vésperas de uma presidência da Comunidade, nas vésperas de um verão quente que se anuncia de incêndios, e num contexto de ameaças terroristas, depois disto tudo, dizia eu, que sentido é que faz votar nestes homens?
E que sentido é que faz, dar o aval aos respectivos líderes partidários?
Estarão à espera que eles repitam mais tarde a graça com a C.M.L., que fizeram agora com a C.M.Sintra, a C.M.Setúbal, o Tribunal Constitucional, o governo...?
Os candidatos até podem ser a nata da nata, do melhor que há, mas que importância tem isso se ao primeiro estalar de dedos saltam dali para outro sítio?
Por exemplo, será que Negrão e Costa, podem garantir que cumprem o mandato até ao fim para que foram eleitos?? E se forem eleitos apenas como vereadores?? E mesmo que garantam que ficam até ao fim do mandato, que valor é que terá isso assim dito na quentura de uma refrega eleitoral?
Tal como podemos contribuir para melhores serviços e produtos, se formos mais exigentes enquanto consumidores, também acredito que daremos uma ajuda a todos nós e ao nosso país, se formos mais exigentes para com a nossa democracia. Isto é, se começarmos a não avalizar estas práticas, isto é, a não apoiar estes candidatos.
Valham o que valham, tenham os apoios que tiverem, ou as credibilidades que arranjarem.
Vivesse eu em Lisboa – onde apenas trabalho e passo a maior parte do meu tempo – e com toda a certeza não perdia um pouco de tempo que fosse a ouvir o que esta malta tem para dizer. Melhor dizendo, ouvir ouvia, mas não votava neles!
Os programas serão de primeira linha, os apoios e mandatários idem, o marketing então nem se fala, mas… e daí?
É que, mais depressa que as suas palavras hão-de ser levadas pelo vento, irão eles desta para outra. Assim surja a oportunidade adequada.
Lisboa é apenas pretexto, terreno de conquista, suporte de futuras eleições. Apenas meio de. Apenas caminho para.
São candidatos voláteis de candidaturas oportunistas!

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quinta-feira, maio 17, 2007

Mulheres mais perigosas

Este museu agora já existe. Trá-lo a editora Quetzal, ao custo de cerca de 29 euros a sua franquia, e podemos assim aceder a este universo da leitura – no feminino- pelo pincel de Fragonard, Heckel, Hopper, Manet, Matisse, Munter, Rembrandt, Vermeer, etc., ou até pela máquina fotográfica de Eve Arnold, que dá a incrível imagem de Marilyn Monroe a ler o romance "Ulisses", de James Joyce.
As mulheres vão aqui vistas ora como "leitoras abençoadas", ora "leitoras fascinadas", "autoconfiantes", "sentimentais", "apaixonadas" ou "solitárias".
Excelentes reproduções, bom papel, grafismo de quilate, aqui não se arrisca mesmo nada.
O único risco é de facto elas tornarem-se ainda mais perigosas.
Por mim falo, que levei e abri este museu lá por casa.

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quarta-feira, maio 16, 2007

Fernando Negrão: desrespeitar

Nem sei o que diga!
Isto é para perder por poucos, ou apenas para desrespeitar os eleitores de Setúbal que nas últimas eleições, em Outubro de 2005, elegeram Fernando Negrão vereador naquela autarquia ??

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terça-feira, maio 15, 2007

António Costa: mais do mesmo

É já oficial: António Costa é o candidato escolhido. Mas mal escolhido, na minha opinião, já que representa exactamente aquilo de que Lisboa já não precisa: um “notável”, um profissionalão da política, e um homem de aparelho. É mais uma das tais "soluções", feitas muito mais para conquistar, do que propriamente para solucionar qualquer problema em Lisboa. Independentemente da competência do escolhido – que a terá, tal como terá uma excelente imprensa – o problema de António Costa é uma outra sua característica, e que é o facto de este homem nunca andar só. Reaprecie-se a sua passagem pelo ministério da justiça quando foi ministro no governo de Guterres.
Foi António Costa quem promoveu e lançou uma profunda reestruturação orgânica em todo o ministério, através do qual foram criados e/ou autonomizados uma série de novos serviços, com dezenas de novos cargos de chefia e dirigismo, alguns deles com autonomia administrativa e financeira, e gestores pagos a peso de ouro, e onde António Costa e o seu compagnon de route, Eduardo Cabrita, colocaram a seu bel prazer dezenas de boys. Naquela altura houve gamela para todos!
A obra de amiguismo que António Costa fez então no ministério da justiça, está aliás só agora, 7 anos passados, a ser desfeita –embora apenas parcialmente - com o PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado).
Para estas coisas, e antes que venha aí o Omo Lava Mais Branco, não custa nada fazer um exercíciozinho de memória.

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domingo, maio 13, 2007

Caol Ila: património e geografia


Cá está, o segundo segredo que me chegou recentemente às mãos, directamente do SMC (Single Malt Whisky Club).
Este –Caol Ila- é da região de Islay, perto de Port Askaig, considerado por muitos como o local mais pitoresco e selvagem desta ilha. Fundada em 1846, esta destilaria é hoje uma das 7 existentes na ilha -Ardberg, Lagavulin, Laphroaig, Bowmore, Bruichladdich, Caol Ila e Bunnahabhaim-, e que em determinada altura do século XIX chegou a ter 21! Caol Ila, embora sendo uma das menos conhecidas destilarias de Islay, será pelo menos uma das maiores. O que é certo é que Caol Ila é desde sempre o destino para os amantes dos maltes fumarentos e marinhos, e parece sem dúvida que há-de provocar algo de especial nos apreciadores, já que parece atrair as descrições mais singulares do mundo dos cheiros e paladares: «bacon fumado, caixas de peixe, relva …».
Este 18 anos, 43 volumes, atrai mesmo a mais campestre das literaturas: «ervas secas, florestas com campainha do monte, notas de bosque…». Será que bebê-lo é também como ouvir uma sinfonia de Vaughan Williams ou alguma longínqua melodia celta tocada num bagpipe? Não irei tão longe, mas o que é certo é que «Caol Ila» é o gaélico de «o som de Islay», e que porventura isso estará gravado no seu DNA, é também o que muitos sentem.
Slaintheva!

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quinta-feira, maio 10, 2007

E se for a vez delas?

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O Efeito Roseta

Ora cá está uma boa notícia! Em Lisboa, qualquer cidadão sério e com credibilidade, que retire o protagonismo aos partidos será, na minha opinião, sempre uma boa nova. Independentemente da sua ideologia e das suas ideias para a cidade.
Todos os partidos sem excepção - e digo todos para incluir neste rol também o BE - são os grandes responsáveis pelo estado a que chegou a C.M.L.
E também não é coisa apenas recente.
A C.M.L., mais que atulhada em dívidas, está sobretudo atulhada de boys de todas as cores e feitios, e amarrada aos contraditórios lobys por eles próprios promovidos.
E cada presidente da autarquia fez das suas, e lá colocou a sua fornada: sim, inclusive Jorge Sampaio, que isto é hábito bem enraizado na nossa classe política.
São camadas sedimentares por cima umas das outras, já que os presidentes saem mas os seus boys ficam. E diga-se de passagem que as últimas 3 fornadas foram das boas: João Soares, Santana Lopes e Carmona Rodrigues.
Agora já estavam novamente as cúpulas partidárias, no segredo e remanso dos seus gabinetes e na balança dos seus interesses, a magicarem mais uma "solução" para Lisboa. Com tranquilidade!
Cada qual procurava, não a melhor solução para o comatoso estado a que chegou a autarquia, mas sim o melhor meio de como a haveria de, mais uma vez, conquistar. É o poder pelo poder.
Mas Helena Roseta não esteve por esses ajustes, e deixou para já muita gente a fazer contas, e em todo o espectro político.

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terça-feira, maio 08, 2007

Mourinho

Gosto muito de ver Mourinho ganhar, mas gosto ainda menos de não o ver saber perder (ou ganhar).
Essa lição Mourinho ainda não aprendeu.
Por onde tem passado, Mourinho vem coleccionando inúmeros episódios de falta de carácter. Não falo da sua arrogância, da sua traquinice, que isso, de tão competente que é enquanto treinador, até tem crédito para tal, e sempre levanta o nevoeiro londrino.
Chantagem com o Benfica; negociata por baixo da mesa com o então presidente da SAD leonina; insultos e rasgão a uma camisola, oferecida por cortesia, por um jogador do Sporting; negociatas em restaurantes e às escondidas com jogadores de clubes rivais do Chelsea; recrutamento, à má-fila, de juvenis na Academia do Sporting; e mais recentemente, chamar à coacção, numa discussão com Cristiano Ronaldo, a infância difícil daquele e a falta de educação apropriada que teve, etc. etc.
É já um padrão! E o número de episódios que se vão acumulando não engana.
Parece-me que o que o special one precisa é de um retemperador banho de humildade. Por isso, a partir de agora, passo a torcer pela derrota de Mourinho.
Até ver quando se torna um homenzinho.

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segunda-feira, maio 07, 2007

Alberto #2

Sim, é verdade, ele provocou umas eleições que custaram mais não sei quanto ao Estado, que o mesmo é dizer, a todos(??) nós.
Ele inaugurou!
Ele disse!
Ele desdisse!
Ele fez trinta por uma linha.
Agora, o que não se pode é acusar o Alberto de ter mandado para o lixo os quase 30 anos de esforço e trabalho do PS-Madeira, de progressão lenta mas sustentada, e que nas últimas eleições lhe valeram uns honrosos 27%.
Isso, o PS-Madeira pode agradecê-lo inteirinho a Sócrates.
O que aconteceu na Madeira foi uma autêntica hecatombe socialista. Não há outro termo possível.
Estas eleições forçadas pelo Alberto procuravam algum efeito e conseguiram. Mandaram simplesmente o PS-Madeira para a sua pré-história de resultados eleitorais naquela região autónoma. O PS-Madeira voltou aos anos 80.
15,4 % é simplesmente deprimente. Se antes as coisas estavam difíceis (com 27,5% obtidos em 2004), a partir de agora ficaram muito pior.
E o PS (nacional) não pode sequer clamar com a história do despesismo Madeirense, ou com a necessidade de fazer a Madeira contribuir igualmente com a sua quota-parte de sacrifício orçamental.
Ele há muitas maneiras de apanhar moscas, e uma delas não é certamente utilizando um elefante para as caçar.
Imbuídos do seu poder absoluto, o governo nacional avançou em força contra Alberto João. E acabou sobrando em músculo o que faltou em inteligência.
Sócrates e o PS quiseram obviamente castigar o Alberto (sim, eu não acredito no Pai Natal!), e assim contribuir para o fim de um ciclo de 30 anos do PSD na Madeira.
Era agora –com maioria absoluta no contnente- ou nunca!
Mas conseguiram exactamente o oposto!
Onde chega a incompetência: nem mauzinhos sabem ser!
Colocaram o Alberto e o PSD-Madeira numa posição de tão grande preponderância, como nunca teve até hoje: o país que abomina Alberto João, que acha que existe deficit democrático na Madeira, etc., etc., bem pode agradecer ao PS e a Sócrates, o novo fôlego do Alberto João.
E o Alberto agradece, ri-se mais uma vez, e agora até tem tempo para arranjar um seu sucessor mais adaptado aos novos tempos.
Na mouche!

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Alberto #1

Sim, o Alberto é isto e aquilo e ainda muito mais.
Para além disso é um cromo, e dos mais raros.
Tenho sempre a ideia que, se vivesse na Madeira, e trabalhasse como funcionário público, me daria muito mal.
Se já me dou tão mal aqui no contnente com tanta cunha, amiguismo, tráfico de influências, oportunismo, etc., nem consigo imaginar o que seria na Madeira com um partido que está omnipresente e é omnisciente desde há 30 anos a esta parte.
Dito isto, confesso no entanto, para mal dos meus pecados, que me rio muitas vezes com o Alberto. E não é apenas por causa do ar paródico da criatura.
É também pelos engulhos que ele vai ao longo dos anos causando – à esquerda, ao centro e à direita – a esta gente do contnente: a estas personagens bem penteadas, de gravatas bem escolhidas, bom recorte no verbo e boa encadernação política, mas que, quando se lhes levanta o tapete, se descobre que afinal são da mais refinada pulhice e putice política, e que são bem mais prejudiciais à nação que o homem das Ilhas.
Com aquele a gente previne-se, porque é o seu estilo que nos põe de sobreaviso.
Com estes a gente engana-se todos os dias e a cada ciclo eleitoral.

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Royal

Não a conheço politicamente, às suas ideias, nem ao recém eleito.
Não vivo em França, não é lá que vou à padaria, que ando no trânsito, que trabalho, que falo para os vizinhos.
O que me espanta é tanto comentador saber tanta coisa.
Eu cá por mim humildemente admito que a única coisa que sei de Royal, é que a senhora é um daqueles pêssegos do tempo dos nossos avós, de aroma autêntico e beleza cristalina.
Com um ar destes, ainda alguém precisa de saber alguma coisa das ideias políticas da senhora?

sábado, maio 05, 2007

Springbank, puro artesanato Escocês

Acabo de receber 2 preciosidades líquidas do SMCSingle Malt Whisky Club -, e aqui vos deixo desde já uma delas, com um pouco de água (??) na boca.
Da região de Campbeltown, uma das 4 regiões produtoras de whisky (na sua divisão tradicional e mais conhecida: Lowlands, Campbeltown, Islay, Highlands e Ilhas), a destilaria Springbank, fundada em 1828, ainda hoje é propriedade da mesma família, sendo igualmente a única destilaria auto-suficiente da Escócia, num total das cerca de 120 destilarias de malte existentes. Seja, faz integralmente a maltagem que utiliza, usa a turfa local, e envelhece e engarrafa nas suas próprias instalações. É, em suma, uma empresa familiar que faz tudo ao modo tradicional e antigo, ao contrário da grande parte das destilarias existentes. É por isso artesanato puro: em vez de 4 ou 5 pessoas, a Springbank ocupa cerca de 40!
Por este motivo mas também pelo destilado resultante, é aqui, em Springbank, que agora se faz um dos maltes de culto do mundo dos whiskies, bem ao estilo tradicional de Campbeltown: pesado, oleoso, poderoso, e muito complexo. Os apreciadores descobrem-lhe notas de água salgada e a influência de turfa.
Do que não há dúvida é que este malte é apenas para gente aventurosa, sem medo e de carácter. A Springbank orgulha-se igualmente de ser a única destilaria que na Escócia produz 3 diferentes single malts, com diversos e específicos métodos de produção: o Springbank, o Longrow e o Hazelburn.
Slaintheva!

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sexta-feira, maio 04, 2007

Carmona recandidato?

Posso fazer só uma perguntinha, por favor??
Marques Mendes disse que, na conversa que teve com Carmona Rodrigues - «a primeira nos últimos dias», o autarca de Lisboa lhe manifestou a sua concordância quanto à necessidade de eleições intercalares.
Mas, onde é que está a contradição com o anúncio de Carmona?
E se aquilo ontem foi apenas o anúncio da sua recandidatura??

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quinta-feira, maio 03, 2007

Next....!!!

Desta vez, há que reconhecê-lo, e ao contrário da maior parte das vezes, Marques Mendes esteve bem. Neste caso, e quiçá com custos eleitorais para o seu partido (veremos), Marques Mendes foi pelo menos e para já, coerente, do mesmo modo como o PS é agora de uma incoerência a toda a prova.
Como é que Vitalino Canas, em nome do PS, pode dizer o que disse, quando na C.M.Oeiras o seu partido está concubinado, de mesa e cama, com Isaltino Morais??
Recorde-se que o autarca de Oeiras foi há pouco tempo constituído arguido pelo Ministério Público, no processo em que é suspeito de crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal.
Não seria caso para também pedir ao PS para "levar a clarificação política até ao fim", em Oeiras, como agora exige que o PSD faça na capital??
Ele há coisas que são de facto, não só de grande insensatez e incoerência política, como de uma tremenda falta de vergonha e de respeito para com todos os eleitores.
A C.M.L. é talvez das poucas gamelas nacionais, onde todos comem: PS, CDU, PSD, CDS...e por aí fora! Aquilo tem dado para todos, e as prateleiras douradas, mais os interesses instalados, são mais que as mães.
O que a C.M.L. precisava era de um euromilhões político: que lhe saísse na rifa um candidato sério, independente, mas forte e credível, que desse uma vassourada das grandes nas centenas de assessores pseudo-técnicos e nos muito comissários políticos que por lá pupulam.
Mas porventura será bem mais fácil ganhar eu o euromilhões!

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Livro: O Erro da OTA

Edição pela Tribuna, com saída marcada para a primeira quinzena de Maio, «O Erro da Ota e o Futuro de Portugal: a Posição da Sociedade Civil», de autoria múltipla:
Prof. Eng.º António Brotas, Prof. António Barreto, Escultor Cerveira Pinto, Prof. Eng.º António Diogo Pinto, Prof. Doutor Galopim de Carvalho, Arq.º Carlos Sant'ana, Eng.º Frederico Brotas de Carvalho, Arq.º Gonçalo Ribeiro Telles, dr. José Carlos Morais, Major General PilAv, José Krus Abecasis, General José Loureiro dos Santos, Judite França, Arq.º Luís Gonçalves, Prof. Mendo Castro Henriques, Dr. Miguel Frasquilho, Patrícia Pires, Dr. Pedro Quartin Graça, Engº Reis Borges, Dr. Rui Moreira, Rui Rodrigues, Eng.ª Teresa Maria Gamito e Dr. Vítor Bento.
Mais informações aqui.

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terça-feira, maio 01, 2007

metamorfoses para 23 versos

há grandes folhas-verdes escuras na penumbra variável
de uma estufa de plantas. há o cheiro a terra húmida
contido entre os vidros brancos de cal, há
fetos, avencas, orquídeas, ciclamenes banhados

pela luz uniforme, a intensas horas do dia. noutras
a penumbra organiza-se em vãos e tufos como os das plantas,]
onde goteja a água, cria o seu musgo, as suas
manchas claras e porosas no reflexo

de algum vidro partido. não há sons, apenas sombras
do mundo, nem o olhar de ninguém; apenas
se pode conjecturar, para as zonas mais escuras, degradadas sob]
os tabuleiros de vasos, que o vagaroso capricho das plantas,

mesmo a cor do ciclamen, se alimenta
da sombra natural quando o seu arco sobe, entre o chão e a parede,]
até alguns fortuitos
brilhos silentes nos suportes da terra. e há outras conjecturas, porque]
esta é uma economia das formas do destino e perdidamente

as pessoas também, quando procuram o limite das coisas,
para viver ou para morrer, se interrogam
sobre um vidro embaciado que lhes devolveu as perguntas
e a água inacessível que as separa

da sua própria imagem, na penumbra virtual.
a escrita é uma orla inquieta das coisas,
uma sombra das figuras.

Vasco Graça Moura

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