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sábado, junho 30, 2007

Um Portugal muito, muito profundo

Ainda sobre o Do Portugal Profundo como arguido (na pessoa do seu blogger), só mais umas palavrinhas para dizer o óbvio, não vá o conhecido poema de B. Brecht causar urticária a alguma gente:
1º) Sócrates tem todo o direito de apresentar queixa do conhecido blogger, seja pelas razões porque o fez, seja por outras quaisquer, boas ou más, inteligentes ou estúpidas;
2º) Tal como teria (mas não quis ter) de apresentar a mesmíssima queixa contra os jornais que, seguindo o blogue, publicaram notícias do mesmo teor (sobretudo o Público);
3º) Posto isto, colocar ou não colocar este processo, mesmo sendo direito seu, não deixa de ter um significado muito claro, sobre quem é aquele que o faz;
4º) Para quem como eu, julga e com forte convicção, que a obtenção do diploma de Sócrates, foi tudo menos coisa clara e transparente, e que a sua saída de cena da comunicação social foi "precipitada", este processo judicial cai como sopa no mel;
5º) Só espero que Sócrates não faça agora o mesmo que Leonor Beleza fez em tempos, a propósito do processo da hemodiálise: enquanto vinha para a televisão clamar justiça, e pedir que houvesse julgamento quanto antes para provar a sua inocência, o seu advogado, Proença de Carvalho, usava todos e mais alguns truques dilatórios, para levar o processo à sua prescrição;
6º) Concluindo, algo me diz que Sócrates só quis fazer de donzela ofendida, mas que tudo fará para que o processo se não faça em tempo útil.

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Cascais à bolina

Arrancou, aqui em Cascais (na 5ª feira), o Campeonato do Mundo de Vela Olímpica 2007, e que abarca apenas todas as modalidades e classes de vela.
Este Campeonato do Mundo realiza-se somente de 4 em 4 anos, e sempre no ano que precede os Jogos Olímpicos.
Esta manhã já fiz uma ronda Baía-Clube Naval-Cidadela-Marina, e posso dizer que o ambiente é simplesmente electrizante, e numa altura em que ainda só começaram as provas para medições e registos, já que as primeiras regatas serão disputadas a 3 de Julho, com as classes Tornado e Star a fazerem as honras de estreia. Sim, é assim que imagino Cascais, é assim que gosto de ver Cascais!
Só a logística já impressiona, com o envolvimento de mais de 200 embarcações e para cima de 500 pessoas.
Cascais será pois palco de um espectáculo único, já que estarão em disputa 11 títulos mundiais e a qualificação de 75% da frota que estará nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
Os números são de deixar a boca aberta a qualquer um: 1399 velejadores, de 76 países, distribuídos por 945 barcos de 11 classes, para disputarem um total de 306 regatas, em cinco campos de regata com uma área equivalente a 1270 campos de futebol.
E não pensem que já viram algo semelhante, pois este campeonato, para além de constituir um recorde de participação, e ser um evento que promete já ficar na história da modalidade, ainda tem algumas características especiais, dado que, pela primeira vez na história da modalidade, os Mundiais estão concentrados num único local, recriando assim um autêntico ambiente de “aldeia olímpica”.
Seguem-se algumas fotos que tirei esta manhã, mas que não representam nem um pouco daquilo que neste momento se passa em Cascais. Para saber, só vindo cá (Sérgio, de que estás à espera aí em Faro??).


As Chinesas em grande azáfama, prontas para irem testar os ventos da serra.


Uma parte das embarcações da logística e dos juízes de regata. E mais azáfama.

Mais preparativos. E parte das gigantescas bóias de sinalização dos diversos campos.

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sexta-feira, junho 29, 2007

E a seguir...??

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)

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quinta-feira, junho 28, 2007

As Metamorfoses de Ovídio

A Cotovia continua a seguir o seu filão classicista.
Acaba de lançar Metamorfoses, do poeta romano Ovídio (século I a.C. - I d.C.), com tradução de Paulo Farmhouse Alberto, no que se constitui como a primeira versão integral em português deste clássico da história da cultura ocidental.
Depois do lançamento de Arte de Amar e Amores (com tradução de Carlos Ascenso André), esta edição pela Cotovia ganha todo o sentido.
Aliás, ainda nesta linha, a editora tinha já lançado também este ano, uma colectânea sobre o maior poeta lírico da Grécia antiga, Ensaios sobre Píndaro, com organização de Frederico Lourenço.
É já pois um catálogo razoável sobre o nosso berço, se tivermos em atenção as anteriores publicações de Odisseia e Ilíada, de Homero (e ainda A Odisseia de Homero adaptada para jovens); Poesia grega de Álcman a Teócrito; Satyricon, de Petrónio, e Paraíso Perdido, de John Milton.

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quarta-feira, junho 27, 2007

A manada

Quem quiser dar uma vista de olhos ao que realmente se está a passar na administração pública, e qual é a face invisível do célebre PRACE (Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado), dê uma vista de olhos na 2ª série do Diário da República.
Em Março, já aqui tinha chamado a atenção, para o facto de o PRACE vir a servir para intuitos clientelares. Nessa altura disse: "É que, dá-se o caso de este governo, a bem dizer ainda não ter sequer começado a atacar a sério na administração pública. Ainda o PRACE vai no adro, e a coboyada seguirá atrás!"
Pois bem, está a acontecer, e é agora! Desde há semanas a esta parte, que todos os dias sem excepção, pela surdina e na calada dos dias, à sombra mediática dos grandes assuntos do momento, estão a ser nomeados centenas de dirigentes da administração pública.
E esta enchente não se limita apenas aos directores gerais e equiparados. Por virtude da lei em vigor, já não há concursos nem para os cargos intermédios de direcção e de chefia. Agora tudo é por nomeação. É certamente assim que funciona a cultura de mérito que enche tanto a boca e o peito ao Primeiro Ministro, ao Ministro das Finanças e ao Secretário de Estado da Administração Pública.
É uma vaga de fundo, como nunca vista em Portugal. Para se assistir a semelhante coisa, não bastaria retrocedermos aos governos de Durão Barroso ou António Guterres. Teríamos de nos deslocar geograficamente para África, e assistir nas planícies do Serengeti à migração, nos meses de seca, das gigantescas manadas de búfalos, gnus e zebras, que sedentos de sede galopam rumo aos pastos e às reservas de água do Quénia, a mais de mil quilómetros de distância.

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Lisboa à vista

Uma gaffe é apenas uma gaffe, mas mesmo assim é uma gaffe.
Esta então demonstra sobretudo, como Lisboa é ainda uma novidade para Fernando Negrão (como aliás, verdade seja dita, é para a grande maioria dos candidatos).
Está certo que até faz jus ao muito que Negrão tem lido e estudado sobre os assuntos da capital, mas também põe a claro que os conhecimentos ainda não estão lá muito bem consolidados. Com estas confusões com as siglas IPPAR, EPUL e EPAL, o candidato nem em perguntas de resposta múltipla se safava. Assim, não admira que António Costa, desde o início pense que a sua conhecida bonomia e boa imagem plástica, e sobretudo o nada arriscar para não cometer nenhum erro, sejam garantia mais que suficiente de vitória. No caso de Costa, quem não arrisca, petisca.
Já a grande parte dos outros candidatos, vê-se que não sabem muito mais do que aquilo que Negrão sabe sobre Lisboa. Predomina aliás neles todos a ausência de uma visão estratégica, e sobejam em seu lugar as ideias giras, geniais, e originais, mas todas muito avulsas. Algumas tiram mesmo a audiência aos Gatos Fedorentos. Salta pois à vista que Lisboa é demasiado grande para todos eles. Helena Roseta chama-lhe mesmo acupuntura urbana.
Mas a mim parece-me mais um pacote de tremoços.

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terça-feira, junho 26, 2007

Feira de vaidades

Como seria previsível, o director do CCB, não gostou nada que, desde há uns tempos a esta parte, o seu espelho mágico teime em dizer que há um novo menino no CCB, que é ainda mais importante que ele. Bem vistas as coisas, um Mega não pode ser passado assim por um Joe qualquer.
Vai daí o comendador reagiu e acusou o director do CCB de "falta de empenho", e pede desde já a sua demissão. Parece que o copo transbordou quando o boss do CCB, decidiu simplesmente não colocar as bandeiras do Museu Berardo à entrada do Centro Cultural de Belém, para assinalar a inauguração daquele novo espaço museológico. Mas o que mais me faz cócegas na barriga, é ouvir o comendador dizer que Mega Ferreira não tem o perfil adequado para o cargo. Ora toma Mega, essa já ouviste, e é bem merecida!

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segunda-feira, junho 25, 2007

Profilaxia democrática

A propósito do já longo caso Rui Rio versus Jornal de Notícias, opino desde já que é de uma razoável estupidez e até de tremenda inutilidade, o autarca do Porto utilizar o site institucional da autarquia para se defender ou atacar o JN. Se Rui Rio o queria fazer – e está inteiramente no seu direito – bastava para tal criar um blog apenas seu. Caramba, não custava nada, é bom e barato, e pelo menos seria tudo muito mais asseado.
Já quanto ao jornalista e director adjunto David Pontes, participar activamente em movimentos de protesto contra Rui Rio, também está igualmente no seu direito fazê-lo.
O que não devia, era utilizar as páginas do JN como instrumento para tal cruzada, o que também salta aos olhos que é aquilo que vem fazendo de há longo tempo a esta parte.
Mais uma vez, um blog pessoal apenas, e tínhamos também o ar bem mais limpinho.
Assim como estão, colocam-se os dois exactamente ao mesmo nível, e que não é lá muito elevado.

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domingo, junho 24, 2007

Pinto da Costa & Filipe Vieira

Definitivamente, Pinto da Costa faz sempre o que quer de Luís Filipe Vieira: é só estalar os dedos, para que o homem do leme benfiquista se coloque ao seu nível. Eu sinceramente, prefiro ver os Sopranos. Pelo menos tem muito mais graça, e o Tony sempre é bastante mais inteligente.

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Franz Schubert por Alfred Brendel

Impromptu Nº 3, Op. 90, D899

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sábado, junho 23, 2007

O urubu mobilizado

Durante as secas do Sertão, o urubu,
de urubu livre passa a funcionário.
O urubu não retira, pois prevendo cedo
que lhe mobilizarão a técnica e o tacto,
cala os serviços prestados e diplomas,
que o enquadrariam num melhor salário,
e vai acolitar os empreiteiros da seca,
veterano, mas ainda com zelos de novato:
aviando com eutanásia o morto incerto,
ele, que no civil quer o morto claro.

2.

Embora mobilizado, nesse urubu em ação
reponta logo o perfeiro profissional.
No ar compenetrado, curvo e conselheiro,
no todo de guarda-chuva, na unção clerical,
com que age, embora em posto subalterno:
ele, um convicto profissional liberal.

João Cabral de Melo Neto, A Educação pela pedra

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sexta-feira, junho 22, 2007

Estudo de Avaliação do Ensino Artístico #2

É natural que volta e meia, e a partir de agora, volte a este assunto. Quanto mais não seja, as 2 crianças lá em casa, a isso obrigam. Mas primeiro que tudo a minha manifestação de interesse: não sou músico e quando muito sou aparentado e apenas por afinidade. Quer dizer, apenas gosto muito de música, e usufruo-a o mais que posso. Por isso, não tenho aqui pergaminho de especialista. A minha especialidade – e experiência - é outra: de pai com crianças que estudam, como todas as outras no ensino genérico, e que para além disso, no final da tarde de uns dias e durante a manhã de outros (sábado), ainda frequentam outra escola (de música). E foi neste perspectiva parental que li o Relatório Final do Estudo de Avaliação do Ensino Artístico.
Começo por isso pelo início, e não deixo desde já de manifestar a minha estranheza, de ver um relatório elaborado sobre o ensino artístico especializado (bold meu), e que abarca saberes tão específicos como a música, dança, etc., ser feito por uma comissão de sábios, mas em que nenhum deles é especialista de algum destes campos disciplinares. É necessário, numa equipa deste tipo, não integrar apenas especialistas do objecto de estudo? Todos de acordo. A isso aliás se chama multidisciplinaridade. Mas constituir uma comissão em que nem um só, um só que seja, para amostra vá, é da área em estudo? Sinceramente, nunca tinha visto. Está-se sempre a aprender. E, pelos vistos, nada como o Ministério da Educação para se aprender sempre coisas novas, não é? Acho que tenho é de retornar à faculdade e voltar a frequentar as cadeiras de teorias e métodos. Adiante. Outra curiosidade é que, ao contrário do que esta estranha opção metodológica nos faria supor, os autores do relatório até nem são contra a presença de especialistas numa comissão deste tipo e num estudo deste teor. É que, afinal, eles próprios são todos especialistas... de ciências da educação! Provavelmente porque as ciências da educação são de uma especificidade tal, que servem de pau para toda a obra. Mas pronto, não se pode ter(ser) tudo. Vêm pois todos redondinhos e bonitinhos, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação .
Já o coordenador, tinha um nome que à partida me soou algo familiar: Domingos Fernandes, de sua graça. Ah, já sei: Domingos Fernandes que é professor na FPCE foi, no governo de António Guterres, e sob a tutela do Ministro da Educação, Augusto Santos Silva, Secretário de Estado da Administração Educativa. Portugal é pequeno. Olha que par.
Mas longe de mim estar aqui a lançar qualquer desconfiança que seja, até porque todos sabem, neste nosso rectângulo de imaculada transparência, que essas coisas de amiguismo, tráfico e benesses, por aqui não são nada frequentes.
Para além do mais, só porque já se foi dirigente do ME, só porque já se exerceu um cargo político, só porque se é do mesmo partido, só porque, só porque, só porque, tal não pode ser impeditivo de as pessoas serem de facto boas naquilo que fazem. Para além do mais, até nem há-de haver por aí muitas escolas de... ciências educativas. Portanto, escolha óbvia. O erro de visão será porventura meu, que pensava que quando se encomendam estudos ao exterior de um determinado ministério, seria com a ideia de que os mesmos fossem elaborados, de facto, numa perspectiva absolutamente exterior ao gestor do universo em causa. Para mais quando é coisa que custa tanto ao erário público, e até se está em período de emagrecer de funcionários públicos, esse e outros ministérios. Mas isso sou também eu, que tenho a mania de misturar tudo. O que é que o dinheiro é para aqui chamado?

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quinta-feira, junho 21, 2007

Outro exercício de memória (muito curta)

Dia 17: Mário Lino, Ministro das Obras Públicas, "desmente formalmente essas notícias e comentários e reafirma que o Governo, como lhe competia, se manteve alheio à diligência do presidente da CIP".

Dia 18: José Sócrates, Primeiro-Ministro, através de comunicado, dizia que são falsas as «notícias que têm vindo a público sobre uma alegada negociação entre o Governo e CIP no respeitante à elaboração do estudo promovido por esta última sobre a localização do Novo Aeroporto de Lisboa».

Dia 20: no programa Quadratura do Círculo, António Lobo Xavier, que também é vice-presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), apresentou uma carta, onde o presidente da CIP, Francisco Van Zeller, refere preto no branco: "reuniões de trabalho com as mais altas instâncias políticas das quais obtivemos a concordância para esta iniciativa [estudo]".
Dúvidas ??

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Exercício de memória

Um acórdão do Tribunal Constitucional classificou na passada terça-feira, como «inconstitucionais» as normas que permitiram repetir os exames de Física e de Química do 12º ano, no final do ano lectivo 2005/2006, apenas aos alunos que optaram pela primeira chamada: "contraria o princípio da segurança jurídica e o princípio da igualdade de oportunidades".
Há um ano atrás, em Julho de 2006, a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, a este propósito, dizia: "a decisão tomada não prejudica nenhum aluno, é legal e não é facilitista".
Então, e em pleno parlamento, o ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, aos gritos e em defesa da ministra, dizia por sua vez que a segunda oportunidade dada aos alunos de Química e Física, "honra o ME e a ministra Maria de Lurdes Rodrigues".

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quarta-feira, junho 20, 2007

Publicidade

Está a decorrer, até ao dia 23, o Festival Internacional de Publicidade de Cannes, organizado pela Screen Advertising World Association (SAWA). Ontem, dia 19, foi o debate com 7 dos candidatos à presidência da CML, patrocinado pela SIC-Notícias.

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terça-feira, junho 19, 2007

As reformas chegaram ao ensino da música

Coloco aqui esta fotografia, à laia de ilustração deste post, tirada do blogue Guilhermina Suggia. A foto é do Salão Nobre da Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa, e essas 4 barras verticais, tipo estaleiro de construção civil, estão lá apenas para evitar que o balcão mate alguém. Podem visitar o referido blogue, para verem igualmente como os tectos deste salão, que foram pintados por José Malhoa há 126 anos atrás, estão a cair aos bocados.
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A melhor maneira de avaliarmos as políticas de qualquer governo não é lendo-as, estudando-as e avaliando-as. Embora isso também conte, e até dê o seu jeito. Mas a melhor maneira mesmo é... apalpando-as. Ou melhor, explico-me, é sendo nós apalpado por elas (pelas políticas). E então logo vemos se gostamos ou não das ditas.
Querem ver como é? Eu conto:
Desde há uns tempos a esta parte tenho lido de fio a pavio o já algo célebre Estudo de Avaliação do Ensino Artístico. A isso juntei o parecer do Conservatório Nacional, sobre o mesmo. Mas até ao momento, conversas para lá e para cá, muitas dúvidas me continuavam a assaltar, sobre o efeito prático desta refundação do ensino artístico (para usar a terminologia grandiloquente do Ministério da Educação) , e para quando o dito efeito.
As dúvidas ficaram desfeitas, quando no passado fim-de-semana fui a uma reunião de pais, na escola de música onde as minhas filhas estudam: piano uma e violino outra.
Essa escola irá, já no início do próximo ano lectivo, transformar-se no Conservatório de Música de Cascais, coincidindo com a sua mudança para as instalações de raiz que entretanto ficarão prontas. Mas entretanto, fomos já informados que, pese embora vir a tratar-se de um Conservatório, o Ministério da Educação não apoiará de modo nenhum, e em percentagem por mínima que seja, as propinas dos seus estudantes. Os papás pagarão pois integralmente as propinas dos seus filhos, como o fariam se eles estivessem numa escola privada. De ensino oficial da música, e do entendimento que o governo quer passar agora a ter do mesmo, estamos portanto, e por ora, conversados. Estes serão para já os efeitos práticos das novas ideias do governo a propósito do ensino especializado da música. Deve ser para isto que se fazem as grandes reformas (ou refundações). Aliás, sempre que agora ouço falar de uma nova reforma, já sei o que aí vem: abro logo a carteira e vejo o que posso fazer por ela. E quem não puder pagar que aguente, que é para não se estar a armar em elite.

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"Portela+1", "+2" ou "+3"

Confesso que desta vez fui apanhado desprevenido, com o anúncio do Ministro das Obras Públicas, de que o governo também aceita receber um estudo que equacione a hipótese "Portela + 1". Mas não volta a acontecer: agora já estou preparado para ouvir na semana que vem, Mário Lino anunciar que aceitará mais um novo estudo (o 3º), desta vez que equacione um 2º aeroporto dentro da própria cidade de Lisboa, provavelmente no alto do edifício do Centro Comercial Colombo.

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segunda-feira, junho 18, 2007

Uma sociedade pouco civil

A Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), decidiu fazer um estudo para uma localização alternativa ao aeroporto da OTA. Para isso contactou algumas associações empresariais (a Associação Comercial do Porto, entre outras), e concebeu um meio institucional para montar a coisa (o chamado Agrupamento Complementar de Empresas: ACE), que seria a entidade supra associativa que no final apresentaria os estudos ao Governo). Só que entretanto, Francisco Van Zeller, como grande presidente da CIP – que também é grande - que é, decidiu pedir autorização ao Chefe. O Chefe, longe de impor seja o que for, deu apenas a sugestão de ser a CIP a avançar sozinha com o dito estudo, e de não meter mais nenhuma associação ao barulho.
E perante tão simples e singela sugestão do Chefe, a CIP obviamente disse que sim.
Depois (de apresentado o estudo), e perante a necessidade de revelar que empresários financiaram o mesmo, ficamos todos a saber apenas o nome de 4 deles, já que todos os restantes (e que ainda serão bastantes) têm receio de revelar o seu nome, com medo de sofrerem represálias do governo, nos seus contratos e negócios com o Estado.
Isto, meus amigos, é a nossa sociedade civil. E este, o primeiro-ministro e governo que temos, que foi mesmo para isso - espevitar a sociedade civil - que o elegemos. O condicionamento industrial do tempo de Salazar não faria melhor. Melhor retrato do que isto é difícil.

P.S. Entretanto, Rui Moreira, presidente de uma das tais associações empresariais afastadas (a Associação Comercial do Porto: ACP), esclareceu que se a sua associação se mantivesse como uma das promotoras do estudo, a opção "Portela + 1" teria sido devidamente avaliada. Diga-se o que se disser, factos são factos, e o que é certo é que o estudo de uma opção "Portela + 1", constava do estudo preliminar apresentado pela CIP à ACP, e acabou também por ficar pelo caminho. Coincidências, certamente. Do que não há dúvida é que, não fosse estarmos a tratar com gente tão importante, e de tanta responsabilidade política, e tudo isto já seria caso de levar esta malta toda para a esquadra da polícia. E por falar em polícia, com tanto esquema e negociatas, o que andará Cavaco a pensar? O mesmo que Sampaio pensou das trapalhadas de Santana?

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O tal futebolzinho

Ainda há justiça no futebol: a selecção de sub 21 foi afastada das meias finais do campeonato da Europa. Pode-se gostar muito ou pouco de Scolari (ou até nem gostar nada), mas uma coisa é certa: este tipo de futebolzinho cheio de técnica, cheio de craques, e nenhum sentido colectivo, nem concentração e atitude competitiva, há muito tempo que, felizmente, está afastado da selecção principal.
Uma selecção de sub-21 que tem jovens jogadores que já custam 25 milhões de euros, outros com contratos blindados a 30 milhões, e alguns já a jogarem nos mais competitivos campeonatos da Europa, não pode simplesmente jogar daquela maneira.
Mas o pior ainda foi o tristíssimo espectáculo protagonizado pelo seleccionador José Couceiro (e mais Rui Caçador e Gilberto Madail), a desculparem-se ridiculamente com os árbitros. E as suspeitas lançadas para cima da selecção holandesa, de que faria o favor de jogar menos bem para fazer passar a selecção belga, até mereceria castigo à altura por parte da UEFA. Uma selecção que não joga à altura dos pergaminhos que diz que tem, simplesmente não se pode queixar de nada. Com tudo isto vêm-me à memória os tempos da selecção principal, antes da era Scolari, com Artur Jorge, Queiroz, Oliveiras, e outros que tais, que perdiam constantemente com as selecções mais fracas, jogavam mal, e depois punham-se a fazer contas de cabeça e a dar desculpas esfarrapadas com os árbitros e os lobbys do futebol europeu ou mundial. Ponha-se pois os olhinhos nesta selecção de sub-21, em mais este episódio deprimente, pois infelizmente será mais disto que voltaremos novamente a ter, quando Scolari abandonar a selecção A. A amostra está aí, como um auxiliar de memória que nos avisa para o futuro.

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sábado, junho 16, 2007

2º aniversário

Confesso que já me esquecia do evento, o que, 2 anos passados e 536 posts depois, até seria coisa imperdoável. Mas cá continua o insustentável, na sua - inútil? - busca de sentido da sua própria existência. O que já sei, é que este blog existe por razões que a própria razão desconhece. Já não é mau.

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sexta-feira, junho 15, 2007

Um SIADAP para amigos

No âmbito da discussão sobre o futuro sistema de vínculos, carreiras e remunerações na função pública, o Governo pretende fixar um novo sistema de progressão, assente na avaliação de desempenho dos trabalhadores. Os funcionários públicos "excelentes" precisarão assim de dois anos para mudar de nível remuneratório, enquanto os que tenham apenas "desempenho relevante" ou "desempenho adequado" terão de esperar três e cinco anos para progredirem. Especificando a aplicabilidade, o Governo apresentou uma proposta, garantindo a progressão na carreira já em 2008 aos funcionários que tenham obtido nota máxima em 2006 e 2007.
Até aqui tudo bem. Quem não quer uma avaliação de mérito e um sistema de prémios monetários pelo desempenho?
Só que esta medida –aparentemente tão meritória – é exactamente o que a administração pública não precisaria neste momento.
Passo a explicar em algumas linhas:
#1 - Antes de mais uma novidade: o novo sistema de avaliação da administração pública, vulgarmente conhecido por SIADAP (Sistema Integrado de Gestão e Avaliação de Desempenho da Administração Pública), não é de facto novo, pois foi instituído e implementado ainda durante o governo de Durão Barroso (2004);
#2 - Esse sistema de avaliação foi nessa altura imposto a uma realidade que não estava de todo preparada para tal, e em simultâneo aos mais de 500.000 funcionários e centenas de serviços públicos;
#3 - Como resultado, no seu 1º ano de aplicação, apenas 8% daqueles serviços tinham implementado o SIADAP, e mesmo esses de um modo muito deficiente;
#4 - E em 2005 e 2006, o ainda bebé sofria já das mais variadas enfermidades, próprias de um velhinho de 80 anos com doença terminal;
#5 - Ou seja, decorridos apenas 3 anos, o fracasso do SIADAP já era por demais evidente;
#6 - Havia pois que resolver o problema, do mesmo modo que se resolve tudo neste país: atirando-lhe para cima com mais legislação, e dizendo para a maralha distraída, que agora é que é, que o SIADAP é uma novidade, e até foi descoberto agora pelos novos génios da governação;
#7 - Aparece assim este novo SIADAP agora em discussão (e que afinal é apenas um ligeiro retoque do primeiro), como se o SIADAP SOCIALISTA viesse resolver aquilo que não resolveu o SIADAP SOCIAL-DEMOCRATA;
#8 - O SIADAP é um sistema de avaliação complexo, que implica um novo sistema de gestão, de alto a baixo em todas as organizações públicas, e em toda a sua estrutura hierárquica, e a dos níveis micro e macro de operacionalidade;
#9 - Para se entender até que ponto os nossos governos (PSD e PS) estão tão preocupados com a avaliação na administração pública, até hoje foram devidamente formados neste novo paradigma da gestão (velho em outros países), apenas uma parte muito ínfima dos dirigentes e quadros superiores da administração pública, e mesmo esses apenas porque se tem recorrido a fundos comunitários (POAP) para tal;
#10 - Como corolário disso, estamos numa situação em que a grande maioria dos dirigentes superiores e intermédios, e quadro superiores, simplesmente não receberam a formação básica adequada, e não sabem o que é que andam a fazer;
#11 - O SIADAP implica que a avaliação de cada funcionário seja feita de acordo com critérios muito objectivos, mensuráveis e quantificáveis, isto é, implica a existência de uma série de métricas de avaliação, gestão e acompanhamento de tarefas, e a uma grande panóplia de indicadores de gestão, a todos os níveis de toda a organização, medindo e rastreando a sua actividade: como é óbvio, não estamos aqui a falar das organizações públicas de Portugal;
#12 - No SIADAP (que entrou em vigor em 2004 e está ainda em vigor), as classificações de "Muito Bom" e "Excelente", é que permitem uma mais rápida progressão na carreira;
#13 - Mas independentemente do nível de desempenho conseguido, muitos poucos podem alcançar estas classificações, uma vez que as mesmas estão sujeitas a quotas muito apertadas (5%);
#14 - Como o SIADAP não consegue avaliar objectivamente o mérito de ninguém, pelas razões enunciadas, que critério é que acham que foi até hoje o habitualmente utilizado? O mesmo de sempre, é claro!
#15 - O resultado dos anos 2004, 2005 e 2006 está aí para o demonstrar;
#16 - E nem é preciso ser-se economista, para se saber o que acontece, quando um determinado bem é muito escasso…
#17 - Agora, o novo SIADAP (o SOCIALISTA), vem juntar à progressão na carreira, uma outra cenoura: o prémio monetário;
#18 - Com esta nova medida, o bem passará a ser ainda mais valioso, incrementando uma pressão enorme sobre um sistema, que por melhores princípios que tenha (e tem), precisava de tempo para se impor, e que por esta mesma razão se vai, pelo contrário, continuar a deturpar-se e descredibilizar-se, e não vai conseguir impor-se de todo;
#19 - Se para uma mais rápida progressão na carreira, alguns amigos já davam os 2 braços e 1 perna para serem os felizes contemplados, imagine-se o que não estarão dispostos a dar para acederem a este novo euromilhões…
#20 - Isto é, se a corrida por lugares intermédios e superiores de chefia, assessorias, etc., já é a pouca vergonha que é desde há longuíssimos anos a esta parte, por virtude da sua superior remuneração, imaginem então o que vai agora suceder a estes novos lugares (os das boas avaliações), criados desde 2004 e agora monetariamente reforçados….
#21 - Este prémio monetário passará assim a ser um prémio de consolação para todos os amigos que não conseguiram que se lhe arranjasse um tacho.
Não tenho dúvidas que o SIADAP servirá para avaliar, e que dará um ar do seu superior rigor, ao apenas atribuir 5% de avaliações de nível superior. Aliás, é mesmo para estas superficialidades e parangonas que os nossos políticos governam. Agora o que é óbvio, é que o SIADAP não vai avaliar o mérito de ninguém. Ou então, o ex-engº Sócrates, o Ministro das Finanças, e o Secretário de Estado João Figueiredo, referem-se a outro tipo de méritos. E lá se vão os créditos para os bolsos dos mesmos.

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quarta-feira, junho 13, 2007

Love Me Two Times

A minha marcha popular:Love Me Two Times

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terça-feira, junho 12, 2007

Silêncio absoluto

Não posso deixar de também fazer referência a mais um triste episódio, protagonizado por uma maioria absoluta, que vai absolutamente reinando.
Aconteceu assim: A Associação de Professores de Matemática (APM) aceitou em Setembro de 2006 integrar a Comissão de Acompanhamento (CA) dos Planos da Matemática.
No dia 11 de Maio de 2007, esta CA reuniu com os professores acompanhantes numa escola de Lisboa. A Sr.ª Ministra da Educação, que esteve presente em parte da reunião, e para a qual convidou a comunicação social, fez uma série de declarações, declarações estas que foram publicadas no dia seguinte em vários jornais.
No dia 15 de Maio, a APM, não concordando com o teor das mesmas, enviou para a comunicação social, (dando disso inclusivé conhecimento à DGIDC e ao gabinete da Sr.ª Ministra) este comunicado, em que discorda das afirmações proferidas pela Sr.ª Ministra.
Até aqui tudo bem. A Srª Ministra fez as declarações que entendeu fazer, e que estava no seu direito, e a APM, não concordando com as mesmas, demarcou-se, como é também de seu direito e salutar que o faça. Isto é assim, se não estamos todos enganados sobre o facto de vivermos em democracia, e para além disso tratarmos com gente crescida.
Mas parece que assim não é.
É que na sequência destes acontecimentos, o Director Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, Dr. Luís Capucha, simplesmente convidou a APM a sair da CA, alegando que esta associação não podia criticar publicamente o programa do Ministério, uma vez que fazia parte dele.
Ficamos pois a saber que o governo não queria a presença da APM na Comissão de Acompanhamento para trabalhar e dar a sua opinião, mas apenas para florir na lapela da senhora ministra.
Tudo isto pareceria mentira se não se desse o caso de este tipo de episódios se vir a repetir com inusitada frequência.
E desta vez o ministério nem tem a desculpa da autonomia gestionária, que deu relativamente ao episódio da DREN.
Aliás, curioso é que este novo caso esclarece definitivamente o outro, relativamente ao papel do ME. Um e outro são faces da mesma moeda: a absoluta arrogância e estupidez.

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MP3

Com a celebração do seu 20º aniversário, a profíqua editora de Hong Kong, Naxos, abre um novo site, inteiramente dedicado ao download. Na linha de qualidade a que já nos habituou esta editora em tudo aquilo que faz, este site vai muito bem desenhado, muito funcional e com uma excelente capacidade de pesquisa. Estão ainda representadas outras editoras, que a Naxos distribui: BIS, Caprice, Celestial Harmonies, Chandos, Collegium, Coro, CPO, Hänssler, Hungaroton, Marco Polo, Profil, Swedish Society, Vanguard and Wergo.
Esta www.classicsonline.com é agora mais uma alternativa a outros sites de download. Bem sei que este formato etéreo de música é ainda de uma certa estranheza para muitos de nós, que ainda insistimos em viver no mundo do CD, e alguns até ainda na proto-história do Vinyl. Eu próprio relutantemente resisto a este modo de adquirir música. Para além disso, ainda não resolvi como conciliar uma certa mania audiófila com este formato MP3. Mas o futuro está já aí, e um dia destes temos de ir ao antiquário para adquirir CD’s.

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segunda-feira, junho 11, 2007

Recuo da OTA??

Mário Lino acaba de anunciar que sempre se vai proceder ao estudo de uma localização alternativa à OTA: neste caso, Alcochete.
O PSD (Marques Mendes) e Fernando Negrão, saúdam o recuo do governo. Saudações de crocodilo, está-se a ver.
Já eu, passe embora a propalada pressão de Cavaco Silva junto do governo, mantenho mesmo assim as minhas dúvidas sobre a boa fé de Mário Lino em todo este processo. E também sobre a proverbial teimosia de Sócrates. É que por ora, o único que vejo a ganhar com este anúncio é António Costa. O governo acaba de fazer com este anúncio mais por António Costa, do que tudo o que este possa eventualmente fazer por si próprio, daqui para a frente. Vamos pois a ver até que ponto este recuo do governo não é apenas estratégia pura ao jeito chinês: um passo atrás agora, 2 passos à frente depois.
É uma inversão de marcha? Ou será apenas uma rotunda?

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domingo, junho 10, 2007

Camões dirige-se aos seus Contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

Jorge de Sena

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sábado, junho 09, 2007

PollyAna

Kenny Mencher: Waterglass paintings

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Uma Didática da Invenção

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

Manoel de Barros

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A namorada

Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia. No tempo do onça era assim.

Manoel de Barros

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To half and to half not

Kenny Mencher: Waterglass paintings

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quinta-feira, junho 07, 2007

Patos-bravos ou flamingos

Vasco Graça Moura sobre a Ota. A não perder.
Flamingos na margem sul e revoadas de patos-bravos da construção civil na margem norte. Se é este o modelo de desenvolvimento (deveras ornitológico) que o Governo quer para Portugal, então pode limpar as mãos à parede....mais aqui.

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quarta-feira, junho 06, 2007

Livros no bolso

Livro de bolso rima, pelos vistos, com praias, aeroportos ou mesmo um alpendre numa casa de campo. Depois do recentíssimo lançamento da colecção de livros de bolso da Dom Quixote – a Booklet -, com porte, maleabilidade e preço condizentes, é agora a vez de uma colaboração inédita entre 3 editoras de referência. A Assírio & Alvim, a Cotovia e a Relógio D’Água vão ainda este mês (18) lançar uma colecção de livros de bolso, de autores clássicos e contemporâneos (ficção narrativa, poesia e ensaio). É a Biblioteca Editores Independentes (vulgarmente denominada por BI ou Biblioteca Independente), que de agora até ao final do ano, lançará 21 destes livrinhos, pequenos apenas no tamanho e preço. A qualidade da edição – tradução, fixação do texto, grafismo – serão mantidas conforme as edições normais das respectivas editoras.
Sabe-se que o mercado do livro de bolso em Portugal não é nada por aí além, sobretudo quando comparado com outros países. Até hoje os portugueses ainda tratam – talvez compreensivelmente – o livro como um objecto de luxo, quase decorativo, embelezador de status e estantes, e sujeito aos ímpetos coleccionistas infertéis (a bem dizer, mais recolectores) de alguns. Pensa-se que outros chegam mesmo a lê-los! Parece que tal panorama se estará gradualmente a modificar. Pelo menos é o que pensam agora estas três editoras e ainda a Dom Quixote. É que quanto mais saudável for a relação dos portugueses com o livro, como algo que pode ser manuseado, marcado, um vinco ou outro numa página, emprestado e até mesmo lido sem pinças, maior poderá ser este mercado do livro de bolso, e menores serão os custos da sua aquisição. Digo eu.
Os primeiros livritos sairão já em Maio:
Ilíada, de Homero, 508 pp., 14 euros
D. Quixote I, de Cervantes, 552 pp., 13 Euros
D. Quixote II, de Cervantes, 576 pp., 13 Euros
Mensagem, de Fernando Pessoa, 96 pp., 4 Euros
Três Homens num barco, de Jerome K. Jerome, 252 pp., 7 Euros
Poemas, de Mário de Sá-Carneiro, 144 pp, 4 Euros
Contos de S. Petersburgo, de Gogol, 288 pp., 7 Euros
Orlando, de Virginia Woolf, 240 pp., 7 Euros
O que é a filosofia?, de Ortega y Gasset, 208 pp. 6 Euros

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terça-feira, junho 05, 2007

Reformas para quem??

Cada cavadela, cada minhoca. Não há auditoria do Tribunal de Contas que não dê nisto: provas de despesismo no Estado, de falta de gestão e liderança, de inúmeras ilegalidades, e de amiguismo a rodos.
Desta vez são apenas (nas palavras desculpabilizadoras do ministro das finanças ), 700 milhões de euros em despesa pública irregular. É assim desde sempre, isto é, desde que o Tribunal de Contas existe e faz o seu trabalho.
Há 2 meses atrás, foi outro relatório ainda mais demolidor que este (Relatório de Auditoria nº13/2007: Auditoria aos Gabinetes Governamentais). Então, ficava escarrapachado para todos, o modo como se alimenta uma nomenclatura, a corrupção que grassa na administração pública na distribuição de tachos, e que tem origem e responsabilidade directa nos governos e partidos.
Sobre tudo isto, umas notas apenas para lembrar algumas evidências:
#1- Este despesismo na administração pública, que leva o país a que todos os anos consecutivamente atire dinheiro à rua – a bem dizer não é bem para a rua! -, este modo de traficar lugares e fomentar concubinatos, são responsabilidade directa dos partidos e dos governos, e não dos funcionários públicos que agora são como moda enxovalhados, bode expiatórios do despesismo e da crise, a reboque de uma salazarenta mesquinhez lusa estimulada pelo presente governo, junto de cada português e opinion maker de esquina;
#2- Em todas as auditorias sem excepção, as responsabilidades são sistemática, e muito directa e objectivamente imputadas aos gabinetes dos ministros e dos secretários de estado, e às altas chefias da administração pública;
#3- Esta nomenclatura – Assessores, Secretários de Estado, Ministros, Directores Gerais e Presidentes – é toda ela escolhida pelo(s) partido(s) dos governos respectivos, sendo inclusive uma grande parte dela também constituída por técnicos que vêm do sempre bem visto sector privado;
#4- Basicamente são sempre os mesmos, com circulação entre lugares de direcção e prateleiras douradas, de modo a gerir os ciclos eleitorais e a alternância no poder;
#5- As grandes reformas (??) na administração pública – PRACE e SIADAP – não são dirigidas a esta nomenclatura (pois como haveria de ser se é ela própria que promove, e está na linha da frente destas supostas reformas?), nem visam acabar com este estado de sítio, que dura há mais de 20 anos, e que tem vindo todos os anos a piorar. Pelo contrário, cada novo governo faz pior que o anterior, e quanto mais reformista é, maior é a tendência para o disparate (este do PS então esmerou-se, e agora até é possível aceder a cargos de chefia sem licenciatura: deve ser um outro programa NOVAS OPORTUNIDADES. E viva a qualificação dos portugueses, a inovação e o choque tecnológico!);
#6- Os últimos propalados casos de sucesso na administração pública – Cobrança de Impostos e ASAE - sendo a excepção, resultaram não de qualquer ímpeto reformador, de qualquer PRACE ou SIADAP, mas tão somente de se ter dado o (a)caso, de terem sido escolhidos responsáveis pelos respectivos serviços, que são competentes e são de facto líderes;
#7- E no entanto, os funcionários público desses serviços de sucesso, são da mesma massa de que são feitos todos os outros, com as suas qualidades que precisam de ser aproveitadas, e seus defeitos (que são muitos) que precisam de ser corrigidos.
Para terminar, mais uma última palavra a respeito deste último relatório do Tribunal de Contas. O ministro das finanças, nas desculpas ridículas que deu (o silêncio seria de ouro neste caso), desvalorizou o montante em questão. 700 milhões serão porventura pouco, mas o jeito que não daria para terminar tanta obra de forte impacto social (já que estamos neste momento a falar do Partido Socialista), como é o caso do novo hospital pediátrico de Coimbra. Um exemplo apenas, entre milhares de boas aplicações para esses poucos 700 milhões de euros.

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OTA cada vez mais in?

O antigo ministro António Costa diz que o Aeroporto da OTA não é assunto que diga respeito a Lisboa. Mas pelos vistos diz respeito a Leiria e desertos adjacentes que, diz a Gazeta das Caldas, até já constituíram uma associação de defesa do aeroporto da Ota. Já não há dúvidas portanto, que o novo aeroporto é agora uma espécie protegida. Nem o lince da Malcata teve tanta sorte! E o (ainda) ministro Mário Lino concorda e, vá-se lá saber porquê, fica feliz e acha bem. Agora, uma coisa é certa: que já vi o aeroporto da Ota bem mais internacional, lá isso vi!

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Tianamen: 18 anos depois

Sim, não posso deixar de me associar ao Sérgio, que lembra o massacre de 4 de Junho de 1989, na Praça de Tianamen. Bem sei que não é uma efeméride popular, não faz parte do cardápio politicamente correcto, e que hoje todos querem fazer muitos negócios com a (sempre) grande China. Mas a memória ainda não está sujeita às leis da Organização Mundial de Comércio.

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segunda-feira, junho 04, 2007

Coisas do diabo

Levante o som, deite alho, espalhe sal grosso, salpique água benta, e ouça pelas mãos de Greg Anderson, o Estudo nº 13 –apropriadamente- «The Devil’s Sataircase», de György Ligeti (1923-2006).

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Amiguismo, pelo Abrupto

Não costumo citar, referir ou linkar a posts de blogs de grande circulação como o Abrupto, simplesmente pelo facto de partir do princípio que os que por aqui vêm ao insustentável, serão amantes da blogosfera, e não hão-de por isso deixar de visitar essa espécie de blogs de referência. E preguiça aqui também conta: para quê citar aquilo que todos já leram? No entanto, não posso desta vez deixar de citar um post de JPP, não só porque o mesmo tem a qualidade da análise que muitos reconhecem ao seu autor, mas porque sobretudo esse post representa quase uma carta de princípios de um dos temas (aliás, no tema), que mais caro me é aqui no insustentável, como sabem todos aqueles que por aqui de quando em quando passam: o amiguismo. Aliás, só agora estou a fazer os "marcadores" a todos os posts deste blog, mas começa a ser bem evidente a preponderância que tem o "marcador" Cunhas, Amiguismo e Tráfico.
O post do Abrupto chama-se COISAS DA SÁBADO: A POLITIZAÇÃO DA FUNÇÃO PÚBLICA, reza assim, e vai com sublinhados meus:
«Há uma razão iniludível pela qual a DREN tem que ser demitida e o governo fica muito mal se o não fizer - o acto da senhora DREN é apenas o momento mais vísivel de um problema de fundo da nossa administração pública: a politização das suas chefias. A biografia da senhora professora que é actuamente a DREN revela essa sobreposição entre carreiras no estado e compromissos partidários. Sendo profissionalmente educadora de infância, foi dirigente da Juventude Socialista, sindicalista muito activa contra o governo de Cavaco Silva com o mesmo zelo com que hoje toma medidas anti-sindicais, e o seu currículo revela a estrita correspondência dos cargos de nomeação governamental com as datas em que o PS chega ao poder, com Guterres em 1995 e Sócrates em 2005, para além do seu papel no gabinete do ministro Santos Silva. Esta biografia é reveladora e é típica dos militantes socialistas (e do PSD quando este está no poder) que são nomeados por fidelidade e clientelismo partidário a assumir funções de controlo político de áreas sensíveis da administração pública.Se se permite que este tipo de prepotências claramente politizadas passe impune, contribui-se para um clima de medo e retaliação na função pública no momento muito delicado em que se estabelecem quotas de classificações e se preparam quadros de excedentes. O ambiente na função pública já é demasiado carregado, por boas e más razões, com muito medo instalado, medo mesmo, para se dar mais essa machadada na legitimidade das chefias quando são chamadas a escolher, a decidir sobre a vida das pessoas. Já chega a notória incapacidade de muitas chefias na função pública para reconhecerem um mérito que elas próprias raramente tem, para agora permitir em público uma exibição grosseira de controlo político-partidário. Este é um dos calcanhares de Aquiles de qualquer reforma da administração pública: a confiança de que as classificações atribuídas aos funcionários têm a ver com o mérito e não com o partido ou as simpatias políticas. Se a DREN ficar nas suas funções, e não se demitir ou for demitida, o medo crescerá, mas o potencial das reformas, que já é escasso, será ainda mais minado por dentro. Esta é que é a questão de fundo

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sábado, junho 02, 2007

Memória da guerra em julho

[4]
Acordas ansioso por saber das grinaldas que o sangue
abriu na noite. Enfrentas a manhã nua e devassa
como a parede branca a que se rasga a forma
de um cartaz antigo. Caíram os tapumes da confiança
e eis presente, como nunca adversa, a geografia
cada vez mais tensa.
Vês a língua de areia servida de outra luz.
A memória sumiu-se, cristalizou nos ecos.
A gestação do medo arruinou as horas.

Ensaias o andar antes sabido. Apenas expões a pele
sem que o contorno do teu velho corpo
revele indícios do que te vai por dentro. Reinventas no mundo
a implantação do vulto, lavado agora das razões seguras.
Estar vivo e acometer a claridade implica a vocação
de afeiçoar o corpo à praça imposta.
Há uma maneira apenas de enfrentar o frio.
É transportar, por dentro, o próprio frio. Não fere, a decisão,
muito para além das decisões alheias.


Ruy Duarte de Carvalho, Lavra. Poesia reunida de 1970/2000

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sexta-feira, junho 01, 2007

22 factos sobre a OTA

Como não parto displicentemente que o assunto da OTA é apenas para técnicos - leia-se, engenheiros e reconhecidos pela Ordem - tenho desde há alguns anos a esta parte, vindo a ler tudo aquilo que possa a respeito do aeroporto da OTA. De tal modo que, desde o tempo do governo Guterres, formei a minha opinião contra mais essa "pirâmide" das obras públicas, opinião essa que venho reforçando, quanto mais sei sobre o mesmo, e quanto mais vejo a superficialidade com que os decisores vêem tratando esse projecto, confundindo teimosia e estupidez com capacidade de decisão.
Tenho por isso constatado o chorrilho de disparates, resultado da ausência de qualquer leitura ou tentativa de compreender aquilo que está em causa, que inclusivé uma parte da blogosfera vem produzindo sobre o assunto. Ele é os 15 estudos, ele é os outros locais chumbados, ele é a aprovação da OTA, ele é o impacto ambiental de determinado local, ele é que o PSD também apoiou a OTA (o que é que isso tem a ver com a solução em si?), ele é isto e mais aquilo.
Como não lêem nada – talvez porque achem que o assunto é demasiado engenheirado, ou porque a coisa de facto não é propriamente um romance de leitura mais agradável - vai daí debitam consoante a sua cor, os seus humores, ou o lado para que estão inclinados.
Vem isto a propósito do livro recentemente lançado, pelos opositores da OTA (interesse desde logo assumido, o que é bom), que vem lançar alguma luz sobre a discussão, e desfazer com base em alguns factos, algumas das ideias pré concebidas que por aí vão circulando, inclusive entre os próprios opositores da OTA. Serve pelo menos para lançar o contraditório, num assunto que se quer dar por encerrado a toda a força. Quem quiser chame também nomes feios a esta abordagem, feche os olhos, mas pelo menos leia, que é para mais tarde não se desculpar que pensava que o assunto era demasiado técnico.
Transcrevo do Portugal Diário:
Depois do livro «O erro da Ota», e usando-o como ferramenta de trabalho, o responsável editorial do trabalho, Mendo Castro Henriques, juntamente com alguns co-autores do livro, elaborou um documento com um conjunto de factos «indesmentíveis».
O relatório já foi entregue aos deputados da Assembleia da República para servir de base para o debate com o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, que irá ao Parlamento falar sobre a Ota no próximo dia 6 de Junho.
Esta sexta-feira, Mendo Castro Henriques, professor na Universidade Católica, vai estar no PortugalDiário, por volta das 16:30, para responder às perguntas que os leitores quiserem colocar sobre a Ota.
Conheça os 22 factos:
1 - Não existe nenhum estudo que indique a Ota como o melhor local para o novo aeroporto.
2 - Em todos os estudos onde a opção Ota foi analisada, foi sempre considerada a mais cara.
3 - A decisão pela localização Ota foi tomada, em 1999, com base num Estudo Preliminar de Impacto Ambiental (EPIA) incompleto e insuficiente.
4 e 5 - Entre os vários descritores usados no EPIA, a Comissão de Acompanhamento do Novo Aeroporto considerou «deficiente» a abordagem feita aos «Recursos Hídricos» e aos «Risco de Colisão de Aeronaves com Aves». Dois pontos usados para eliminar Rio Frio.
6 - O site da NAER não disponibilizou a totalidade dos estudos em Novembro de 2005. Foram omitidos estudos importantes, como o realizado pela ANA em 1994 e que escolhia o Montijo, e cortaram-se partes de outros documentos.
7 - O estudo de 1999, que apenas compara Ota e Rio Frio, não justifica a exclusão da localização Montijo, que até então tinha «ganho» em todos os relatórios.
8 - Os capítulos das conclusões do EPIA da Ota e do Rio Frio são cópias um do outro.
9 - Alguns factos foram deturpados de modo a legitimar a escolha da Ota.
10 - A decisão foi tomada sem que tenham sido avaliadas todas as determinantes: não foi instalado um posto meteorológico na Ota; não foi estudada a implicação da gestão do espaço aéreo; não foram estudados os acessos nem as características dos solos.
11 - A solução «Portela + 1» foi abandonada por causa da escolha da Ota. Todas as restantes localizações são compatíveis com a utilização simultânea da Portela.
12 - A Ota terá uma vida útil muito inferior ao Aeroporto da Portela, que já passou os 60 anos de vida. A Ota pode «viver» 30/40 anos.
13 - O novo aeroporto será pago pelo Estado e pelos contribuintes.
14 - Lisboa ficará menos competitiva. Por exemplo, as taxas de aeroporto serão mais elevadas na Ota.
15 - A TAP será menos competitiva. O processo do aeroporto de Atenas, inaugurado em 2001, é semelhante ao da Ota. A companhia aérea grega declarou falência em 2003.
16 - A privatização da ANA como parte do negócio da Ota, significa dar a uma entidade privada a gestão de quase todos os aeroportos portugueses.
17 - Há factos que obrigam a reequacionar a opção Ota. Cresceram as Low cost. O traçado do TGV foi alterado e passar na Ota obriga a «ginástica».
18 - Não foram criados mecanismos para tributar mais valias nos terrenos da Ota.
19 - O turismo perde. Estudos efectuados mostram uma quebra de 15,6 por cento no turismo de Lisboa.
20 - Por causa da Ota a linha do TGV Lisboa/Porto será apenas para passageiros e não para mercadoria.
21 - O TGV tira passageiros aos aviões.
22 - A área de influência de dois aeroporto - Norte e Sul - é superior à influência de um aeroporto central.
Quem quiser ter acesso ao documento completo dos «22 factos» clique aqui.

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